Acareação aponta falhas na UTI durante atendimento e morte de Benício em Manaus
Manaus/AM - A Polícia Civil do Amazonas ampliou as frentes de investigação sobre a morte do menino Benício Xavier e trabalha, agora, com quatro linhas principais de apuração: erro de prescrição da médica Juliana Brasil, falha da técnica de enfermagem Raíza, possíveis irregularidades estruturais do Hospital Santa Júlia e a suspeita de que erros durante tentativas de intubação na UTI também tenham contribuído para o óbito. As informações foram repassadas nesta quinta-feira (4), pelo delegado responsável pelo caso, Marcelo Martins.
Segundo o delegado, a acareação entre as duas profissionais revelou divergências e reforçou suspeitas. Três testemunhas afirmaram que a médica teria tentado adulterar provas ao buscar alterar a prescrição original no sistema do hospital, fato que será verificado por perícia técnica. A investigação também apura falhas estruturais graves, como a falta de farmacêutico e o número insuficiente de enfermeiros no dia do atendimento.
"A primeira linha de investigação analisa o erro de prescrição da médica, que teria ordenado a administração de adrenalina por via intravenosa, e não por nebulização. A segunda apura a falha da técnica, que não teria realizado a dupla checagem e aplicou o medicamento de forma incorreta. A terceira frente examina possíveis irregularidades estruturais do hospital, incluindo falta de profissionais e descumprimento de protocolos de segurança. A quarta linha, ampliada após novos depoimentos, investiga se erros ocorridos durante tentativas de intubação na UTI podem ter contribuído para a morte de Benício", destacou o delegado.
Martins destacou que Benício chegou consciente à UTI, mas teve uma piora súbita após três tentativas malsucedidas de intubação, motivo pelo qual uma outra médica foi chamada às pressas. A investigação permanece sob a tipificação de homicídio doloso, com possível dolo eventual.
A Polícia Civil aguarda os laudos do Instituto Médico Legal, que analisará todas as possíveis causas e responsabilidades. Só após as conclusões periciais será possível definir até que ponto cada falha, da prescrição ao atendimento na UTI, contribuiu para a morte do menino.
Morte
Benício morreu na madrugada de 23 de novembro após receber uma dose incorreta de adrenalina. A médica reconheceu o erro tanto em um documento enviado à polícia quanto em mensagens nas quais pediu ajuda ao médico Enryko Queiroz. A defesa, porém, sustenta que a admissão ocorreu “no calor do momento”. O caso segue sob investigação da Polícia Civil e do Ministério Público do Amazonas (MPAM).
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