Vida Pública
Existe uma lei consuetudinária no Brasil, muitíssimo aplicada pelos governos em todos os seus níveis, que consiste em não fazer os trabalhos no tempo certo, permitindo que os mesmos se transformem em problemas. Chegando a este ponto, os governos em atitude contemplativa adotam a postura de deixar os problemas do jeito que estejam para ver como ficarão.
Desta maneira os problemas se transformam em crises. Quando a situação é esta, os governantes são obrigados a agir como bombeiros. Não integro o time daqueles que consideram que a vida pública deva ser só de sacrifícios.
Entendo sempre que, ainda que gratificante, e desde que imposta por vocação ou por vontade compulsiva de servir, o que é a mesma coisa, ela implica sacrifícios de toda ordem: pessoais, familiares, financeiros, etc. Por isso, entendo, igualmente, que os ocupantes de cargos públicos, eletivos ou não, devem ser bem remunerados. Não só porque ocupam, como prestadores de serviço, postos importantes na sociedade, dos quais dependemos todos nós, mas também porque, sendo assim, não se sentirão atraídos, como vem ocorrendo com frequência, pela alavancagem de dinheiro público para a realização de negócios escusos, que levam ao mais grave dos enriquecimentos ilícitos.
O maior problema dos nossos governantes hoje, na formação da sua equipe, está na nomeação de auxiliares disponíveis e competentes, com vocação para trabalhar pelo bem comum e que estejam dispostos a fazer sacrifícios pessoais.
Os salários não são atraentes, à exceção das (poucas) estatais, que procuram pagar os seus funcionários de acordo com o mercado. As distorções, que são exceção, responsáveis por salários mirabolantes, frutos de decisões judiciais baseadas em leis equivocadas, não justificam a pressão que a mídia, empurrada por uma opinião pública desinformada (ou será vice-versa?), exerce contra os servidores públicos em geral.
É extremamente injusto, portanto, que se transforme o servidor público no bode expiatório das nossas dificuldades. Sobre ele tem recaído o peso maior de uma política econômica que permite a indexação dos preços, mas congela impiedosamente os salários. E é exatamente isto que está levando o País a uma situação de tensão social gravíssima, embora o ministro Mantega afirme que não consegue enxergar a causa do pessimismo e do mau humor hoje reinantes entre os brasileiros.
É possível que, ao dizer isto, o ministro esteja vivendo no mundo da lua ou, quem sabe, a lua de mel do poder, que embaça a sua visão crítica e o faz enxergar, a curto prazo, uma realidade repleta de indicadores econômicos positivos, invisíveis a nós, simples mortais.
A vida pública é o espaço da palavra, por excelência. Quem faz vida pública, fala. Porque é de seu ofício exprimir aquilo que diz respeito ao interesse da sociedade; é de sua obrigação expressar o que se relaciona com as aspirações dos cidadãos que o homem público representa, mas falar o contrário do que a maioria das pessoas sentem e percebem, é além de mentir, não ter sensibilidade social e compreensão da realidade.
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