Cenários do futuro
Não caros leitores, não vou escrever sobre o momento atual do nosso Brasil, nem comentar sobre o voto do ministro Luís Fux, no julgamento do golpe. Vou escrever sobre o que imagino do nosso futuro como pessoas.
Controle de estresse, comida sem gordura, apoio psicológico, exercícios físicos, cirurgias plásticas, tratamentos estéticos e medicamentos afrodisíacos estão estendendo a duração da vida humana e transformando a velhice num período vigoroso, em que as pessoas se aproximam do fim da existência no pleno exercício de atributos antes reservados à juventude e à meia-idade.
A coisa avança em tal ritmo que dentro em breve teremos situações esquisitas, como o avô e o neto que se encontram numa festa para namorar a mesma garota. Ou a vovó que curte uma dor-de-cotovelo e é consolada pela neta numa mesa de bar. Embora na inexperiência dos 17 anos, a neta terá serenidade para repassar à idosa senhora alguns conselhos sobre o comportamento masculino, imprevisível em qualquer idade.
Qual será o resultado econômico-social dessa extensão da vida humana? Em primeiro lugar, um sério problema para os sistemas de aposentadoria e pensões. O ajuste fiscal brasileiro irá para o brejo em definitivo e o pessoal do PT, que provavelmente estará no governo, proporá uma nova reforma previdenciária fixando idade mínima de 85 anos para a concessão de aposentadoria. A oposição neoliberal acusará a esquerda de ter se tornado neoliberal demais e votará contra o projeto, em nome dos excluídos.
Outra consequência será o aumento do desemprego. No mundo do futuro, dizem os entendidos, será mais fácil um elefante passar pelo buraco de uma agulha do que encontrar um emprego.
Metade do trabalho será feita pelas máquinas e inteligência artificial, a outra metade pelos maiores de 50 anos, idade que marcará, então, o fim da adolescência. Resultado: metade da juventude ficará em casa viajando na Internet e a outra metade formará um exército de entregadores de pizza, sem carteira assinada.
A maior parte da conversa virtual entre jovens será dedicada a planejar uma revolução contra o domínio das máquinas e dos velhos, mas o plano será sistematicamente abortado pelos computadores. E quando os motoboys resolverem se encarregar da revolta, as motos deixarão de funcionar misteriosamente.
Os cenários possíveis do futuro são inúmeros, mas parece que da insegurança no trabalho não escaparemos. O mundo criado pelo homem ultrapassará, paradoxalmente, a necessidade do homem.
O trabalho humano, a grande diferença entre homens e animais segundo a filosofia clássica, se tornará obsoleto. E nos tornaremos bichinhos de estimação das máquinas, que assumirão toda a racionalidade e todo o trabalho necessário. Até mesmo os psiquiatras serão andróides, que terão a vantagem de nos entender melhor e de cobrar muito menos pela consulta.
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