O mundo está acabando
Desde menino escuto esta frase: “O mundo vai se acabar”. Dizer, dizem mesmo, a ponto de impressionar crianças e adultos.
O Mundo, na verdade, está sempre acabando dentro de cada um de nós. Aos pedaços, em parcelas, em prestações dolorosas, em episódios de profunda tristeza. Pois não morremos um pouco quando morre alguém a quem amamos? Não morremos muito quando sofremos alguma decepção, um desengano, uma desesperança? A saudade não é morte em conta-gotas? O mundo chegou ao termo, para os que perderam a sabedoria do existir.
Vivem num sulco profundo de solidão, grande, insondável, onde a luz não atinge, não clareia sequer um trecho por menor que seja. Fechadas dentro de si, não se expandem por mais que falem, não se comunicam por mais amáveis que sejam, não se revelam por mais extrovertidas que possam parecer. O sol as ilumina por fora, por insistência, arrebata-lhes reflexos luminosos, mas não chega ao seu âmago. Trancadas como num cofre com fechadura de segredos, isoladas em meio a multidão, caladas por mais que tagarelem, longe de todos e de tudo, carregam uma queixa e por companhia, a tristeza.
Será que os ansiosos se iludem, pensando enganar outrem? Aparentam ventura e felicidade. Na face até mesmo um riso, nos olhos, alegria. Uma alegria como a da superfície das águas. O que se passa lá dentro, em seu coração, quem vai saber mesmo.
A inovação e a renovação, são necessárias ao espírito e ao corpo, como o ar ao organismo. Mas, na sucessão dos anos, grandes mudanças de condições causam aflição. A televisão está contribuindo para o extermínio do mundo interior, no mais íntimo da sensibilidade daqueles que a assistem. O que enche o vídeo e entra em todos os lares, diariamente, são os filmes e programas de terror, pânico, sequestro, estupro, assalto, roubo, vício de toda ordem, brutalidade de toda natureza. Até o faroeste que jamais perturbou alguém, e fez vibrar inúmeras gerações, sumiu, cedendo lugar ao crime organizado, à violência nas palavras, nos gestos e nas ações que envenenam a infância e a juventude.
Atônitos ficam os que ainda não se acham preparados para o que é, ao mesmo tempo um impacto e uma pressão constante invadindo casas, desinformando, deseducando. Não se vê o fogo devorando ou a água invadindo a terra, mas o Mundo está se acabando. Não pela profecia bíblica ou um fenômeno da natureza, mas pela mente e mão do homem, que, não respeitando seu semelhante, destrói o coração humano, nos seus sentimentos e emoções, trazendo o ódio a guerra e ofuscando o que há de puro em cada um de nós.
Uma lógica perversa. Aliás, a aprendemos com os cretenses.
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