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Rio de Janeiro de joelhos ao crime


Por Flávio Lauria

29/10/2025 13h33 — em
Espaço Crítico



O Rio de Janeiro, teve ontem, vinte e oito de outubro, uma de suas maiores letalidades em operações, contra o Comando Vermelho, com quatro policiais mortos e dezenas de trabalhadoras mortos e feridos. Isso se deve a falta de planejamento para uma operação desse tipo, e mais, da politização feita pelo governador do estado do Rio, tentando mostrar ao povo que a segurança feita contra o crime organizado, está na mira do gabinete. Ledo engano. Isso traz medo ao cidadão carioca ou não, as noites e os dias são longos.

Em cada rua, cada casa, a respiração calma é cortada, como se a sensação pesada e sufocante incendiasse a atmosfera e confundisse os sentidos. As pessoas, aqui e ali, que outrora navegavam suavemente no barco escuro do sono, ouvem agora o caminhar dos relógios e sentem dentro de si o verme da inquietação e os corações machucados. Uma humanidade inteira se consome na febre, noite e dia, em perene vigília através dos sentidos excitados de milhões. O destino penetra invisível por janelas e portas, e afugenta o sono e o esquecimento de cada leito. São tempos perigosos esses que vivemos, com cada um espreitando a distância longe de si.

Há o temor das balas perdidas, da bandidagem negociando com o governo, com a insegurança afugentando as multidões solitárias que povoam as ruas em busca de trabalho. A tibieza, a fraqueza com que o governo enfrenta a bandidagem mostram que o país vive uma guerra civil, que Brasília não reconhece, por motivos políticos. Não há emprego, as pessoas se temem; não há perspectivas do amanhã nesses dramas sociais que aterrorizam trabalhadores, empresários e a polícia. É assim em São Paulo, Rio, Recife e Belo Horizonte, onde viver e trabalhar já foram atos mais generosos. Não podemos, ao contrário do que diz o Pai-Nosso, perdoar essas ofensas.

A guerra civil, que encontra especialistas para explicar por que a bandidagem está irritada, faz vítimas que a imprensa internacional mostra, sem piedade com este país infeliz, povoado por desempregados, congressistas corruptos, governo fraco e um presidente que não sabe o que diz. Nessa transformação da vida, todos estamos atrelados aos acontecimentos, ninguém permanece frio diante do terror da violência que se espalha, forçando a conclusão de que o Iraque e o Haiti não são muito diferentes da realidade que vivemos, uma espécie de febre do mundo. O que se pretende é transformar o drama em tema eleitoreiro.

Esses fatos não são uma visita aos despreocupados, à comunidade agonizante de esperanças de nosso país. Pela visão crítica dos jornalistas desfilam homens e mulheres, símbolos vigorosos da vida a temer pelos filhos que se atrasam nas noites violentas, com expectativas de impressionante agudeza e gravidade. São dias perigosos que se somam a noites aterrorizantes. No discurso ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1972, Alexander Soljenitsin disse que a violência não existe e não pode existir por si só. Ela está invariavelmente entrelaçada com a mentira. E assim ocorre. O Rio de Janeiro está de joelhos ao Comando Vermelho.

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