Natal e a compreensão da vida
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Fiz as contas e já passei dos oitocentos e cinquenta meses de vida. Vivi em dois séculos e em dois milênios, como muitos leitores. Vi muita coisa, e ouvi muitas musicas que ficaram imortalizadas. Li muitos livros e vi guerras, presidentes depostos, e governadores e prefeitos que passaram, com altos e baixos em suas administrações, perdi muitos amigos, inclusive este último mês do ano, presenciei várias injustiças, calúnias, porém continuo firme em propósitos delineados. Faço este preâmbulo para especificamente falar sobre o Natal.
Já fiz artigos que coincidiam com o dia de Natal, e este ano faço com dias antes. Esta é uma quadra privilegiada do ano. Fase de aliviar a tristeza, dar trégua à amargura, tolerar o erro, conviver com a fraqueza, sepultar o ressentimento e, especialmente, avivar expectativas por mais tênues que sejam. Instante de aceitar, aproximar, perdoar, esquecer os agravos, renovar as esperanças. Esperanças que se anunciam como possibilidades de superação dos problemas e probabilidades de concretização de planos, projetos, desejos e sonhos.
Tudo isto porque de esperança vive o homem, que nela busca amenizar a aridez do cotidiano e espera a realização de incontáveis probabilidades. Daí o interesse de mantê-las sempre vivas, mesmo diante da perspectiva de um possível fracasso, pois são elas que sustentam o ânimo, contribuindo para a vitória sobre o desencanto. Entretanto, convém não cultivar esperanças “vazias”,
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Essas que não têm fundamento, e para as quais inexistem possibilidades de concretização. Importa, sim, nutrir expectativas enquanto viáveis as probabilidades de consecução. Por isso mesmo, não se pode confundir otimismo com esperança, porquanto o otimismo contínuo, crônico, não concebe males e contradições, enquanto a vida, como todos sabem, não se dissipa sob a forma de nuvem.
Tempo de Natal é tempo de concórdia, em que as divergências tendem a ser superadas e o homem, submetido às celebrações do momento, sente necessidade de irmanar-se, confraternizar-se e acolher o próximo. Natal é tempo de ter fé e de acreditar na capacidade de o homem transformar o mundo, mediante a prática do amor e da solidariedade, promovendo, ademais, o abrolhar do sentimento que a todos irmana – a fraternidade. Natal é tempo de esperança.
Cada um de nós cultiva seus dezembros, e a este especificamente, rezemos às nossas certezas e incertezas. Esqueçamos, pelo menos em razão da paz, as discórdias do ano que não passaram de meros equívocos da ilusão.
Tranquemos o desnecessário ódio que porventura nos tenha atormentado, por momentos, na última gaveta do baú do esquecimento.
Que se danem os atropelos dos irrefletidos; os lenços lavados de lágrimas; as provações do destino; as atrocidades desmedidas dos idiotas; as incoerências dos "manés" incapacitados; os lamentáveis descumprimentos dos direitos humanos; os ventos poluentes da hipócrita política que nos suga a credibilidade de sua prática cotidiana, os intelectuais
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Confeitados. Para o inferno os ladrões da nação, do patrimônio alheio, das ideias, da cidadania, dos sonhos alimentados pelos esquecidos da sociedade, da vontade do povo bom.
Feliz Natal a todos.
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