Fraude educacional
Tenho três irmãos formados em Direito e exercendo cargos de Procuradores no Ministério Público, e dois filhos também formados em Direito, cada um em sua área especifica do Direito, e como professor do curso de Direito, embora não formado em Direito, tenho a concepção exata de como são formados hoje os alunos nessa profissão.
O curso de direito é depositário dos mais alentados sonhos das famílias brasileiras. O investimento de meia década é justificado pela certeza de que a obtenção do diploma universitário abrirá novos horizontes profissionais. Bem por isso, o curso é um dos principais destinos dos minguados investimentos e das enormes esperanças de parcela menos abastada da população, sempre animada com as perspectivas imaginadas para o futuro ´doutor`.
Com assustadora frequência, concluso o curso, restam a ignorância, dívidas e a frustração. A propagandeada formação do aluno revela-se um engodo. A educação, em alguns ambientes, é instrumentalizada. Ela, que deveria ser um fim, transmuta-se em mero meio para a acumulação de capital. Professores fingem que ensinam, alunos pensam que apreendem e está inconscientemente selado um pacto oprobrioso: de um lado, o almejado canudo (de todo inútil aos despreparados); do outro, os cofres cheios das instituições de ensino.
A aprovação anual cria no imaginário do aluno a ilusão do aprendizado. Com efeito, a cada matrícula tem-se o atestado implícito, passado pela faculdade, da apreensão do conteúdo ministrado no período passado. E assim, os anos se passam, com o pagamento das intermináveis mensalidades, para a alegria dos empresários da educação. É fato: os cursos de direito têm baixíssimo índice de repetência nas disciplinas cursadas. Uma vez admitidos no vestibular, não se ouvem notícias de desistências por sucessivas reprovações, denunciadoras da inaptidão do aluno. Todos aqueles que entram, um dia saem, assegurando-lhes a colação do grau.
Ocorre que o mercado é seletivo. Clientes, escritórios e concursos públicos não acomodam a mediocridade que grassa entre os bacharéis. Os zumbis jurídicos se avolumam, vagando a esmo sem condições de exercer profissão qualquer na área de formação por eles eleita. Educação, como se sabe, não é o simples ministério de disciplinas; mais que isso, é o compromisso com a acurada verificação da efetiva apreensão dos conteúdos pelo alunado.
Hoje, esse papel que seria das faculdades começa a ser desempenhado pelo exame de ingresso na OAB, atualmente imprescindível ao controle técnico dos pretendentes ao exercício da advocacia. Aos inaptos, resta iniciar uma jornada pelos cursinhos preparatórios, de modo a obter o conhecimento que a instituição de ensino, pela falta de critérios rígidos e de seriedade nas avaliações, iludiu a apreensão.
Os altíssimos índices de reprovação no exame de ordem impõem uma séria reflexão sobre o papel e as responsabilidades das instituições de ensino superior pelos diplomas entregues, notadamente quando, em alguns casos específicos, praticamente a totalidade dos diplomados carecem de conhecimentos elementares sobre as disciplinas cursadas. Pagaram por algo que, a despeito da certificação, não lhes foi entregue em absoluto. Têm um título que praticamente de nada lhes vale, obtido à custa de vários reais e anos de presença em sala de aula despendidos inocuamente, por um pedaço de papel. São, inequivocamente, desiludidas vítimas de uma fraude educacional.
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