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Governo Bolsonaro pediu propina de 1 dólar por vacina, diz representante: 'coisa asquerosa'

Por Portal Do Holanda

29/06/2021 20h38 — em
Brasil


Foto: Reprodução/Instagram e Marcello Casal Jr

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da vendedora de vacinas Davati Medical Supply, revelou que o Ministério da Saúde pediu propina de US1 (R$ 4,69) por dose para fechar contrato da compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. A informação dada pelo representante foi publicada na noite desta terça-feira (29) pela Folha de São Paulo.

O pedido de propina do governo de Jair Bolsonaro teria partido do diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, durante um jantar com o Dominguetti, no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, no dia 25 de fevereiro, um dia antes do Brasil ter atingido 250 mil mortos pela pandemia da Covid-19.

Roberto Ferreira Dias foi indicado pelo líder do governo de Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-RR), citado pelos irmãos Miranda no depoimento à CPI da Covid, acerca das suspeitas sobre o contrato bilionário do governo federal com a Covaxin. Ainda de acordo com o representante da Davati, a empresa procurou o Ministério Público para negociar 400 milhões de doses da AstraZeneca com proposta de US$ 3,5 por cada uma (depois disso, passou a US$ 15,5). 

 "O caminho do que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa", afirmou Dominguetti.

"Eu falei que nós tínhamos a vacina, que a empresa era uma empresa forte, a Davati. E aí ele falou: 'Olha, para trabalhar dentro do ministério, tem que compor com o grupo'. E eu falei: 'Mas como compor com o grupo? Que composição que seria essa?", afirmou Dominguetti à Folha.

"Aí ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo", disse.  ​"Aí eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora e que eles não faziam, não operavam daquela forma. Ele me disse: 'Pensa direitinho, se você quiser vender vacina no ministério tem que ser dessa forma".

Questionado sobre que “forma” seria essa sugerida pelo Ministério da Saúde, Dominguetti detalhou:  "Acrescentar 1 dólar" [por dose].  "Dariam 200 milhões de doses de propina que eles queriam, com um [contrato total de] R$ 1 bilhão."

"E, olha, foi uma coisa estranha porque não estava só eu, estavam ele [Dias] e mais dois. Era um militar do Exército e um empresário lá de Brasília", completou Dominguetti.

O representante da empresa de vacinas confirmou que tem certeza de que o encontro foi com o diretor de Logística do Ministério e disse ter provas.  "Claro, tenho certeza. Se pegar a telemetria do meu celular, as câmeras do shopping, do restaurante, qualquer coisa, vai ver que eu estava lá com ele e era ele mesmo". "Ele [Dias] ainda pegou uma taça de chope e falou: 'Vamos aos negócios'. Desse jeito. Aí eu olhei aquilo, era surreal, né, o que estava acontecendo."

"Eu estive no ministério, com Elcio [Franco, ex-secretário-executivo do ministério], com o Roberto, ofertando uma oferta legítima de vacinas, não comprou porque não quis. Eles validaram que a vacina estava disponível."

Voltando ao pedido de propina, o representante relembra: "Aí eu falei que não fazia, que não tinha como, que a vacina teria que ser daquela forma mesmo, pelo preço que estava sendo ofertado, que era aquele e que a gente não fazia, que não tinha como. Aí ele falou que era para pensar direitinho e que ia colocar meu nome na agenda do ministério, que naquela noite que eu pensasse e que no outro dia iria me chamar".

  "Aí eu cheguei no ministério para encontrar com ele [Dias], ele me pediu as documentações. Eu disse para ele que teriam que colocar uma proposta de compra do ministério para enviar as documentações, as certificações da vacina, mas que algumas documentações da vacina eu conseguiria adiantar", continuou.

"Aí ele [Dias] me disse: 'Fica numa sala ali'. E me colocou numa sala do lado ali. Ele me falou que tinha uma reunião. Disso, eu recebi uma ligação perguntando se ia ter o acerto. Aí eu falei que não, que não tinha como."

"Isso, dentro do ministério. Aí me chamaram, disseram que ia entrar em contato com a Davati para tentar fazer a vacina e depois nunca mais. Aí depois nós tentamos por outras vias, tentamos conversar com o Élcio Franco, explicamos para ele a situação também, não adiantou nada. Ninguém queria vacina", disse Domingueti.

O representante afirma que Roberto Dias afirmou que "tinha um grupo, que tinha que atender a um grupo, que esse grupo operava dentro do ministério, e que se não agradasse esse grupo a gente não conseguiria vender".

Ele, no entanto, afirmou que não sabe de que “grupo” seria esse.  "Não sei. Não sei quem que eram os personagens. Quando ele começou com essa conversa, eu já não dei mais seguimento porque eu já sabia que o trem não era bom".

A suspeita de irregularidades sobre a compra de vacinas pelo governo de Jair Bolsonaro começou com o contrato bilionário da Covaxin, com o depoimento do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda ao MPF. O funcionário público relatou que foi pressionado de forma “atípica” para liberar a importação dessa vacina, cujo contrato foi fechado em tempo recorde quando o imunizante ainda não tinha todos os dados divulgados. A CPI no Senado também passou a investigar o caso. Além disso, o valor da dose fechado com o governo foi maior que o comum, US$ 15 por dose - em comparação à vacina da Pfizer, US 5 dólares mais cara por dose. 


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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