Será que o amor acaba?
Chegando o Dia dos Namorados, e deixo aos leitores e leitoras a indagação que dá título a este artigo.
O encontro entre duas pessoas acontece por quase infinitas formas e motivos. É um olhar que se cruza, um toque, um sorriso, um perfume, uma lembrança, uma ideia, um projeto de vida... um desejo de compartilhar corpo, alma e vida com alguém. O amor acontece no porão da alma, sem condições nem regras, com meras intenções e toneladas de ilusões. Sem pudor, os pares tecem cenas e se vestem com diferentes papéis, para despir, uma a uma, todas as suas fantasias. O amor chega como uma suspeita: uma coisa indescritível, um misto de bom e de ruim, de passado e de futuro. O amor é um sossego inquietante, uma turbulência pacífica, um sentido perdido na certeza distraída.
Quando se abre a cortina lá estão os pares, apaixonados! Quando o outro entra em cena ... não há como interromper esta ocupação. É uma invasão por todos os lados de uma coisa invisível e incolor. Quando o amor chega, tem-se a consciência de que estamos vivos, de que não somos inteiros, que somos partidos. Amores, perfeitos ou imperfeitos, quando chegam não conseguem controlar o destino. O que faz um encontro durar ou acabar? Paulo Mendes Campos, no seu conto O amor acaba, escreve num só parágrafo, entre vírgulas e ponto-e-vírgulas os motivos que fazem o amor acabar e termina dizendo que o amor acaba, para recomeçar em qualquer lugar e a qualquer instante ... Como tudo na natureza, o amor não acaba, se transforma. Os amantes, diferentes dos jardineiros que plantam e colhem amores perfeitos, ficam perplexos quando o amor acaba. Amores, perfeitos e imperfeitos são como as flores: belos, coloridos, delicados e perfumados.
Existem amores de vida curta, outros, quase eternos. E o que faz uma relação durar ou acabar? Humberto Eco diz que existem noções comuns a todas as culturas, e que todas elas referem-se às posições de nosso corpo no espaço e no tempo e que a dimensão ética começa quando o outro entra em cena.. Devemos antes de tudo respeitar o direito da corporalidade do outro, entre os quais o direito de falar e pensar.
Por inúmeros e inconfessáveis motivos um dos pares pode mudar seu objeto de desejo; perder seu interesse ou sua admiração pelo ente, antes querido. Se não perder sua capacidade de diálogo, seu código de ética, sua capacidade de distinguir o tolerável do intolerável o amor pode durar, mais uma primavera. Pode, quem sabe, seguir o rastro do sol perseguindo todas as primaveras. Quando a cena tem dois atores que não se olham, o descaso se instala e o amor, por acaso ,chegará ao fim. O amor que cega o amante, enaltece o amado, sem reciprocidade - ética, sexual e temporal - no corpo e no espaço, este amor acaba, vive apenas na superficialidade de cada encontro. Para se colher um amor perfeito é preciso de boa semente, boa terra, água e sol na medida certa. Sem cuidado, uma flor pode morrer.
Diferente dos jardineiros que plantam e colhem amores perfeitos os escritores, poetas, pesquisadores...teóricos em geral, pensam mais do que escrevem; escrevem melhor do que falam; falam muito mais do que fazem. Sem fugir à regra, há tempos venho me dedicando ao tema, na tentativa de entender o sucesso e o insucesso das relações amorosas. Se eu soubesse fazer com gente o que sou capaz de fazer com as letras poderia, com certeza, sugerir uma receita melhor do que esta, para colher amores perfeitos: Consulte seu coração, seu corpo e sua mente.
O coração pressente, o corpo não mente e a razão não sente. Quando o coração bate sim, depois já bate não; a mente diz que sim, depois já diz que não; é o corpo quem manda se quer sim ou quer não. Se você não pergunta se é sim ou se é não, é sinal que o amor respondeu pelos três.
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