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DPE reforça pedido ao STJ para barrar explosivos da PF em garimpos no Rio Madeira

Por Portal Do Holanda

16/09/2025 9h53 — em
Amazonas


Foto: Reprodução

Manaus/AM - A Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) voltou a se manifestar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) pedindo a suspensão imediata do uso de explosivos em operações da Polícia Federal contra o garimpo ilegal. Apesar da gravidade da situação denunciada, o ministro relator manteve a operação, mas sinalizou preocupação com os relatos ao expedir uma série de ofícios. O Grupo de Trabalho Teko Porã – Vida Digna, responsável pela ação, reafirmou seu compromisso em buscar a paralisação da medida, que classifica como "desproporcional e desumana".

Em um novo pedido de reconsideração, a DPE-AM reforçou a tese de que a tática da Polícia Federal está causando um "estado de guerra" não declarado, gerando pânico e caos em municípios do Rio Madeira como Humaitá, Borba, Barreirinha e Novo Aripuanã. A Defensoria apresentou novos relatos sobre helicópteros voando baixo, sobrevoando ônibus escolares e o estrondo das explosões invadindo as comunidades ribeirinhas. A situação levou a suspensão das aulas em Humaitá, com escolas mandando as crianças de volta para casa em meio ao perigo.

Foto: Reprodução

A Defensoria argumenta que a operação, que já teria lançado mais de 1.500 bombas, cria um "estado de sítio de fato" nas comunidades, gerando pânico generalizado e causando danos graves à vida e à integridade física e moral da população. Relatos e imagens anexados ao processo mostram helicópteros voando baixo, sobrevoando até mesmo ônibus escolares, e o estrondo das explosões invadindo as casas de madeira, interrompendo a rotina e as aulas nas escolas locais. A situação é tão caótica que a diretoria das escolas municipais de Humaitá suspendeu as atividades, mandando as crianças de volta para casa. 

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A ação questiona a eficácia e a humanidade da tática da Polícia Federal, que, com o aval da União, tem utilizado a destruição de maquinário como principal medida de combate. No entanto, a DPE-AM ressalta que as operações têm atingido principalmente o garimpo artesanal, praticado por moradores vulneráveis, enquanto os grandes financiadores da atividade, os "donos do dinheiro", permanecem impunes. A Defensoria cita uma nota de repúdio da prefeitura e da câmara de vereadores de Manicoré, que teve o feriado de sua padroeira, Nossa Senhora das Dores, interrompido bruscamente pelas explosões. 

Nota de repúdio - Foto: Reprodução

Os defensores públicos apontam uma série de problemas decorrentes da operação, que vão além do risco de morte. Entre eles estão a contaminação da água e do ar, a morte em massa de peixes e outros animais, a destruição de moradias (já que muitas balsas servem de abrigo para famílias inteiras) e o aumento da miséria e da exclusão social. O documento menciona casos de crianças que quase foram deixadas para trás durante a "correria" das explosões e de famílias, com mulheres grávidas e idosos, abandonadas na beira do rio. 

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No pedido de reconsideração, a Defensoria contesta a decisão anterior do STJ que havia indeferido o pedido de liminar, por entender que a questão era complexa e exigia aprofundamento. Os defensores argumentam que a utilização de explosivos é um fato notório e público, e que exigir provas detalhadas da população vulnerável seria uma "prova diabólica", impossível de ser produzida, o que inviabiliza o acesso à justiça. Eles insistem que o que se pede é apenas um "cessar-fogo temporário", uma pausa para que órgãos da União, Estado, Município e representantes dos garimpeiros possam dialogar e encontrar soluções alternativas. 

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A DPE-AM destaca a falta de um plano social integrado por parte do governo federal, que se limita a uma abordagem puramente repressiva. A instituição aponta que a atividade garimpeira, embora ilegal em muitos casos, é a única fonte de renda e subsistência para milhares de famílias ribeirinhas, que enfrentam um cenário de cheias e estiagens severas. A Defensoria Pública defende que a proteção ambiental deve andar lado a lado com a garantia dos direitos sociais e da dignidade da população. A conclusão do relatório é clara: "não se resolve problemas sociais com emprego de bombas incendiárias."

Diante do cenário, a DPE-AM reitera o pedido de liminar para que o STJ determine a proibição do uso de artefatos explosivos pela Polícia Federal e pelo Estado do Amazonas nas operações contra o garimpo artesanal no Rio Madeira. A solicitação inclui a aplicação de multa de R$ 1 milhão para cada um dos entes, em caso de descumprimento, visando assegurar a proteção da vida e da dignidade dos moradores da região. A instituição busca uma solução que vá além da repressão, priorizando o diálogo e a construção de políticas públicas que ofereçam alternativas econômicas e sociais para a população afetada.

Veja o documento da decisão na íntegra: 

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