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QUANDO UMA OPINIÃO RENDE PAUTA


Por Elizabeth Menezes

19/11/2023 15h11 — em
Ombudsman



Neste último sábado, 18, o Portal do Holanda publicou entrevista com o geólogo Miguel Marins de Souza. Mestre em geologia e gemologia, ele faz um alerta sobre a possível contaminação da água e do ar, consequência da destruição de balsas e queima de óleo diesel usados por garimpeiros, aqui no Amazonas. Ação da Polícia Federal. Reportagem assinada pela jornalista Ana Célia Ossame.  Miguel Marins, com experiência de trabalho em vários órgãos públicos na área de mineração, de acordo com o texto, diz que a destruição dos equipamentos “é uma decisão controversa pelos efeitos danosos ao meio ambiente e pelo custo, já que poderia ser dado outro uso para as balsas”. 

Ainda de acordo com a reportagem, “o geólogo fica muito incomodado ao ver a incineração das balsas”. “Para ele, o mínimo que poderia ser feito era retirar todo o mercúrio e óleo diesel existentes nas balsas apreendidas antes da incineração. O mercúrio separa o ouro, mesmo em pó, por isso é o preferido dos garimpeiros, com esse objetivo”. Miguel Marins também explica: “O metil mercúrio, quando o mineral se combina com o carbono do meio-ambiente, dissolvido na água vai para as brânquias dos peixes carnívoros que estão no topo da cadeia alimentar, daí vem para o homem”. Na entrevista, o geólogo defende a legalização da atividade de mineração, “com fiscalização permanente e com regras definidas”. 

“Hoje não temos fiscalização constante, quando há o problema e chegam as autoridades para fiscalizar, já está agravado”, afirmou, na mesma entrevista, em que também se pode ler: “Para Miguel, no entanto, teria que se pensar em um uso qualificado e fiscalizado dessas balsas em atividades legais, com o uso adequado desses produtos. Há algumas décadas, ele cita a criação de cooperativas que agrupavam os familiares para trabalhar na mineração, fator de garantia do sustento deles no tempo da seca dos rios”. A reportagem cita a Polícia Federal, que falou sobre o assunto em entrevista à imprensa: “mercúrio e óleo diesel encontrados nas balsas são apreendidas pelos policiais antes da incineração”. Sobre incineração das balsas, a justificativa é: impossibilidade da retirada dos locais e falta de local para guardá-las. 

Ao comentar sobre a reportagem da Ana Célia Ossame, a Coluna pretende revisitar um texto publicado no dia 4 de agosto deste ano, neste mesmo espaço. Com o título “Quando uma coluna de opinião pode inspirar ótimas pautas”, a Coluna daquele dia citava assuntos abordados pelo diretor-geral deste portal, Raimundo de Holanda, em Bastidores da Política, coluna assinada por ele. E sugeria reportagens sobre os temas ali tratados. A Redação não deu muita importância ao apelo. Um dos temas que poderiam render boas matérias: contratação de duplas sertanejas para apresentação em encerramento de feira agropecuária, cujo valor havia sido considerado exorbitante pelas autoridades de controle e até pela imprensa (considerando que a seca, por exemplo, castigava os municípios).

O tempo passou e no dia 10 de novembro, a Coluna Bastidores opinou sobre “Erros do Ibama e da PF”, com a incineração de dragas usadas por garimpeiros. “A iniciativa do Ibama e da PF de queimar 350 dragas nos últimos 90 dias reduziu a presença de garimpeiros em áreas indígenas e freou a garimpagem ilegal na Amazonia, mas produziu dano difícil de ser dimensionado ao meio ambiente. Queima produz fumaça, especialmente quando há produtos químicos e combustíveis nas dragas”, escreveu Holanda. “A apreensão das dragas, barcos e seu conteúdo poderiam ser usados em favor dos povos que residem nessas áreas, seria mais eficiente e produtivo. As próprias fotos do Ibama e da PF assustam, pelo nível de fumaça produzida pela queima das dragas”. 

Disse mais o Holanda: “Relatório do próprio Ibama e PF revela que foram destruídos 42  mil litros de óleo diesel.  A quantidade de fuligem e aerosol jogados na atmosfera não pode ser medida, mas está claro que contribuiu para a poluição do ar. O método aplicado é errado e afronta a política ambiental que o governo defende. Numa região já afetada pela fumaça de queimadas da floresta, a decisão de queimar dragas de garimpeiros apenas contribui para a poluição do ar. Se resolve um problema, pode estar criando outro ainda maior”. E assim, por coincidência ou não, uma sugestão da Coluna Ombudsman criou forma na entrevista com o geólogo Miguel Marins de Souza, 80 anos e muita experiência. Ganhou o leitor do portal. 

Esse tema não se esgota em poucas reportagens. Logo, profissionais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) também deveriam ser ouvidos. Idem garimpeiros. Mas, registre-se: louvável iniciativa.

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Elizabeth Menezes, jornalista formada pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas), repórter em jornais de Manaus, a exemplo de A Notícia, A Crítica e Amazonas em Tempo. Também trabalhou na assessoria de Comunicação da Assembleia Legislativa.

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