O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a esposa Michelle chegaram a Manaus na manhã da sexta-feira (3). Ele, para o lançamento da pré-candidatura do deputado federal Alberto Neto (PL) à prefeitura de Manaus. Ela, para receber o título de Cidadã do Amazonas, aproveitando um evento do PL Mulher. Pela agenda, o compromisso dele seria na mesma sexta-feira, à noite, enquanto ela receberia o título na manhã de sábado, o que realmente aconteceu, depois de superado um imprevisto. É que depois do lançamento da pré-candidatura do aliado, Bolsonaro precisou ser hospitalizado. As primeiras notícias falavam em trombose, mas depois veio a informação oficial: tratava-se de uma erisipela na perna e desidratação. 

Bolsonaro recebeu atendimento médico no Hospital Santa Júlia. Especulou-se que ele não estaria presente no evento PL Mulher, na manhã do sábado (4), quando Michelle receberia a honraria proposta pela deputada Débora Menezes (PL) e aprovada pela Aleam (Assembleia Legislativa do Amazonas), em 2023. Porém, o ex-presidente foi liberado do hospital e compareceu ao Centro de Convenções Vasco Vasques (uma hora de atraso, anotou a imprensa), onde não apenas discursou, mas também avisou, em tom de suspense, que permaneceria em Manaus por causa de um compromisso, com hora marcada. ”Tenho um compromisso aqui em Manaus às 21h, que não posso falar pra vocês. Mas é um compromisso que talvez vai gerar repercussão no mundo todo”. De novo, a imprensa fez o registro: Michelle voltaria para Brasília no sábado, sem o marido. 

GOVERNADOR VISITA BOLSONARO NO HOSPITAL 
 
Acontece que, neste domingo (5), Bolsonaro já estava de volta ao hospital Santa Júlia, onde ficou tomando medicação e, à tarde, recebeu a visita do governador Wilson Lima (União Brasil), que registrou o encontro nas suas redes sociais, mostrando a foto dos dois. O governador chamou Bolsonaro de presidente. “Visitei há pouco o presidente Jair Bolsonaro, que veio cumprir agenda em Manaus e precisou ser internado para atenção à saúde. Deixei nossa equipe à disposição para ajudar no que for necessário. Ele afirmou que está bem e daqui a pouco já está 100%”, escreveu Wilson Lima, que não compareceu ao aeroporto para receber o ex-mandatário. A foto do governador com o ex-presidente teve divulgação em todos os veículos de comunicação. E de acordo com o noticiário no fim deste domingo,  Bolsonaro deixará Manaus amanhã, segunda-feira. 

O problema da erisipela e desidratação de Bolsonaro acabou desviando a atenção dos motivos originais da vinda do casal a Manaus. Diga-se que a chegada do casal ao aeroporto Eduardo Gomes, rendeu manchete do tipo “multidão recepciona Bolsonaro”, além da referência a bolsonaristas que repetiam “Lula ladrão, teu lugar é na prisão”. Porém, a carreata da saída do aeroporto, de acordo com o relatado, ficou aquém do esperado. Da mesma forma foi notado que, no lançamento da pré-candidatura de Alberto Neto, na Arena Amadeu Teixeira, apareceram apenas 7,5 mil pessoas, quando a expectativa era 10 mil pessoas. Um detalhe que o jornal A Crítica registrou, ao tratar da chegada do casal ao aeroporto. “O ex-presidente ignorou a imprensa, que foi afastada por um cordão de isolamento feito por policiais militares”. 

A SAÍDA É “OUVIR PESSOAS PRÓXIMAS”? 

Não apenas Bolsonaro. O agora pré-candidato a prefeito, Alberto Neto, virou as costas para os jornalistas quando começaram as perguntas, ao término do evento. Aconteceu no fim do lançamento da pré-candidatura e vídeos mostraram o momento. Portanto, os profissionais foram ignorados pelo ex-presidente e pelo seu escolhido para disputar a prefeitura de Manaus. Já a ex-primeira-dama repetiu o discurso de sempre contra o presidente Lula e os “esquerdistas”. Agradeceu sua equipe ao receber o título de Cidadã do Amazonas. Esqueceu de agradecer aos deputados que aprovaram a concessão da honraria. Por outro lado, é forçoso lembrar: eles não estavam na cerimônia. Apenas a autora da proposta, cujo pai foi chamado de “baba-ovo” pelo Capitão Alberto Neto.

 Enfim, os repórteres tiveram de se contentar em ver/ouvir de longe ou recorrer a “pessoas próximas” para completar as matérias. Ou consultar as redes sociais dessas pessoas importantes, para saber a opinião delas e copiar. Será essa a saída? Pode ser, mas o resultado serão relatos praticamente idênticos. Pior: relatos que os seguidores das pessoas importantes já leram no original. Em resumo: um ex-presidente do Brasil chega a uma cidade onde tem, ou já teve, a maioria dos eleitores (segundo as estatísticas), mas prefere ficar perto apenas de alguns poucos. E bem longe do que ainda se chama imprensa. Pelo seu histórico, faria isso mesmo sem precisar estar num hospital. 

Será que os proprietários dos veículos de comunicação têm opinião sobre isso?