Geólogo alerta para contaminação da água e do ar com incineração de balsas
Por Ana Celia Ossame, especial para Portal do Holanda
A destruição das balsas usadas pelos garimpeiros com incêndios feitos pela Polícia Federal (PF) pode estar causando uma poluição em maior escala caso o mercúrio e o óleo diesel usados pelos nas balsas estejam nessa combustão. Ao receber temperatura aumentada, o mineral se transforma em metil-mercúrio exalando vapores tóxicos e corrosivos mais densos que o ar, o que amplia o poder de contaminação.
O alerta é do geólogo Miguel Martins de Souza, 80, que já trabalhou em vários órgãos públicos na área da mineração. Para ele, a destruição desses equipamentos é uma decisão controversa pelos efeitos danosos causados ao meio-ambiente e pelo custo, já que poderia ser dado outro uso para as balsas.
“O metil mercúrio, quando o mineral se combina com o carbono do meio-ambiente, dissolvido na água vai para as brânquias dos peixes carnívoros que estão no topo da cadeia alimentar, daí vem para o homem”, afirma ele, explicando que no processo de mineração artesanal, o mercúrio é utilizado na separação de partículas finas de ouro através da amalgamação e posterior separação gravimétrica. O amálgama separado é queimado.
Ao defender a legalização da atividade da mineração, com fiscalização permanente e com regras definidas, Miguel, que é mestre em geologia e gemologia, assegura existir formas para retirar o ouro sem causar danos ao ambiente.
Depois de trabalhar por mais de quatro décadas nessa área no Amazonas e no Acre, o geólogo fica muito incomodado ao ver a incineração das balsas. Para ele, o mínimo que poderia ser feito era retirar todo o mercúrio e óleo diesel existentes nas balsas apreendidas antes da incineração. O mercúrio separa o ouro, mesmo em pó, por isso é o preferido dos garimpeiros, com esse mesmo objetivo.
Para Miguel, no entanto, teria que se pensar em um uso qualificado e fiscalizado dessas balsas em atividades legais, com o uso adequado desses produtos. Há algumas décadas, ele cita a criação de cooperativas que agrupavam os familiares para trabalhar na mineração, fator de garantia do sustento deles no tempo da seca dos rios.
Ao afirmar que boa perto dos municípios do Amazonas, o geólogo a necessidade da regularização e fiscalização. “Hoje não temos fiscalização constante, quando há o problema e chegam as autoridades para fiscalizar, já está agravado”, disse Miguel, ao defender a necessidade de um ordenamento do setor para que a extração seja feita de maneira sustentável.
Polícia Federal
A Polícia Federal (PF) informou que o mercúrio e o diesel encontrados nas balsas são apreendidos pelos policiais antes da incineração.
Em entrevistas à imprensa, delegados da PF justificaram a incineração das balsas pela impossibilidade de retirada delas dos locais e pela falta de um local para guardá-las.

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