Quando a notícia merece maior espaço
Jussana de Oliveira Machado estava no Centro de Detenção Provisória Feminina desde 19 de agosto deste ano, deixou a prisão na última terça-feira 26, por decisão da juíza Eline Paixão Amaral. Ganhou a liberdade, mas terá de usar tornozeleira eletrônica e cumprir outras determinações judiciais, como apresentar-se à Justiça uma vez por mês. O marido Raimundo Nonato Machado, policial civil, continua detido na Delegacia Geral da Polícia Civil. Ele teve prisão preventiva decretada no dia 19 de agosto. O casal responde a denúncias de tentativa de homicídio contra o advogado Ygor de Menezes e agressão física contra a babá Cláudia Lima.
Eis a notícia divulgada nesta quarta-feira 27, referente a um caso ocorrido em 18 de agosto deste ano, no estacionamento de um condomínio da Ponta Negra (zona oeste de Manaus), mas tornado público no dia 19, um sábado. Naquele dia, imagens das câmeras de segurança mostraram Jussana em ação: batendo na babá e depois atirando na direção do advogado. Durante todo o dia e início da noite de sábado, a imprensa deu ampla cobertura ao acontecimento, mas de forma desencontrada. A começar pelo nome da agressora, que era grafado de quatro formas diferentes: Juçana, Jussana, Juçara e Jussara.
Outra falha na cobertura: a babá ficou sem identificação o dia inteiro. Era simplesmente “babá”. Houve até quem escrevesse “babá do advogado”. O Portal do Holanda, que chegou a publicar seis matérias sobre o assunto, não teve a mínima preocupação de procurar saber o nome da babá e muito menos checar o nome correto da agressora. O descuido se revelou tamanho que, num mesmo texto, aparecia “Jussana Machado” e Juçana Machado”. Nas demais publicações, uma hora era “Jussana” e em outra podia-se ler “Juçana”.
A negligência foi percebida pela coluna, que também acompanhou o noticiário de alguns veículos de comunicação, para comparar com a produção do portal, divulgada no mesmo dia. Sob o título “Quatro nomes e a mesma agressora”, a coluna publicada na primeira hora do dia 21 de agosto, chamou a atenção do portal para esse tipo de descuido da redação. Desde o início da confusão, o nome do advogado havia sido citado. Mesmo assim, ninguém lembrou de tentar uma entrevista com ele, por exemplo. E coube ao Jornal Nacional informar que o nome da babá era Cláudia Gonzaga Lima, amazonense de Manaus. A história dela, no episódio, também não mereceu atenção do portal – nem antes e nem depois de ficar conhecida.
Agora, com a liberdade da Jussana, a coluna volta a comentar o assunto, comparando a forma de divulgação do Portal do Holanda e dois outros veículos de comunicação de Manaus. O portal publicou a notícia num texto curto, sem “retrospectiva”, sem informações importantes para o leitor que não acompanhou o caso ou gostaria de entender melhor. Um resumo, enfim. Segundo a matéria, a juíza decidiu soltar Jussana, “que estava presa após agredir a babá Cláudia Lima e atirar no advogado Ygor Colares em condomínio na Ponta Negra” e que ela “deverá usar tornozeleira eletrônica”.
Em seguida explica que, além da tornozeleira, “outras medidas cautelares foram impostas para a soltura de Jussana”. E cita as medidas:
-Proibição de deixar Manaus.
-Proibição de voltar ao Condomínio Life Ponta Negra.
- Não manter contato com as vítimas, testemunhas e familiares destas.
-Recolher-se no período da noite e em dias de folga.
-Apresentar-se em juízo mensalmente, de forma presencial ou virtual.
Não se pode dizer que a notícia está incompleta, inclusive porque, além de uma foto do casal, tem imagem das câmeras em que Jussana aparece, de revólver em punho, na área do condomínio. Porém, com um pouquinho mais de trabalho da redação, o leitor do portal poderia ficar sabendo, por exemplo, de argumentos da juíza para libertar Jussana. O jornal A Crítica traz esse tipo de informação. Conforme a magistrada, Jussana “possui condições pessoais favoráveis”. E junto ao esposo Raimundo Nonato, “providenciou o aluguel de um apartamento no bairro Lagoa Azul, além de possuir uma filha de 14 anos que necessita de seus cuidados”. Leitor do Portal do Holanda não ficou sabendo desse detalhe.
A Crítica também publicou duas imagens: uma do casal e outra do momento em que Jussana batia na babá, sob o olhar (de incentivo) do marido. Já o portal Amazonas Atual explica que o casal foi denunciado “por tentativa de homicídio qualificado contra o advogado Ygor Menezes Colares” e “por tortura em razão de discriminação”. Também cita o momento em que a babá é agredida e o marido de Jussana incentiva: “Bate a cabeça dela. Bate! Vai quebrar a cara dela”.
É preciso registrar: A Crítica e o Amazonas Atual reservaram espaço suficiente para não apenas noticiar a decisão judicial, mas também relembrar um fato que, embora vergonhoso, teve repercussão até na imprensa nacional. Por outro lado, essa história não acabou (o marido da Jussana pode ser o próximo a ganhar liberdade). Então, num possível próximo capítulo, a redação do Portal do Holanda poderá dedicar mais tempo e espaço para contar melhor essa história. E outras.
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