A notícia em diversas formas
A cada novo avanço da tecnologia, a notícia ganha formas diferentes de chegar ao grande público. Pegando a era do rádio: bastava a voz potente de um locutor (quanto mais empostada, melhor) para a notícia chegar aos lugares mais distantes, dependendo da potência da emissora. Além de programação musical, entretenimento em geral e até novela. E o locutor não esquecia de “avisar” a hora. Satisfação garantida.
Ninguém sentia falta de imagens que viriam muito tempo depois, com os aparelhos de televisão. Primeiro em preto e branco, depois colorida. Notícias em jornais impressos traziam fotos, em preto e branco, no início. Mas, com a chegada da internet e evolução de celular que tem até câmera fotográfica, a notícia deixou de ser exclusiva de algum veículo de comunicação. Qualquer um pode produzir vídeo e divulgar em qualquer rede social. Basta querer.
Um exemplo dessa mudança pode ser percebido aqui no Amazonas, neste período de queimadas, calor e estiagem que está fechando rios e impedindo a navegação, vital para a população. Nos últimos dias, uma reportagem da Rádio Palmeira FM (102.1), do município de Manacapuru (Região Metropolitana de Manaus), foi divulgada no Facebook. Texto e vídeos mostravam o resultado da seca na comunidade Costa do Pesqueiro. “A comunidade deve ser mais uma a ficar isolada em decorrência da seca, visto que o canal de passagem para embarcações de pequeno porte que dá acesso à cidade de Manacapuru já está secando”, diz um trecho da matéria.
Em Manaus, o radialista Valdir Corrêa gravou um vídeo mostrando intensa fumaça do outro lado do rio Negro, em frente de Manaus. Ele fez as imagens do alto do prédio onde funciona a Rádio Difusora, na avenida Eduardo Ribeiro. Não apenas gravou as imagens, mas também fez críticas a autoridades. Nos dois casos citados, profissionais do rádio não usaram apenas a voz, igual acontecia nos tempos passados.
O trabalho da Rádio Palmeira FM recebeu muitos comentários. E a reação não se limitou a palavras: internautas aproveitaram para postar imagens de outras comunidades que estão enfrentando problemas por causa da seca. Ou seja: moradores das próprias comunidades divulgam notícias ilustradas com imagens capturadas por um aparelhinho que cabe na palma da mão. Dispensado, portanto, câmeras potentes e sofisticadas, que apenas profissionais sabem usar.
Não é mais nenhuma novidade que até as maiores emissoras de televisão do país utilizam, em reportagens, vídeos divulgados em redes sociais, além de imagens de câmeras de segurança. (Não dá para ter um repórter em cada esquina). Todos os veículos de comunicação fazem o mesmo, incluindo sites, portais e blogs. Estes últimos, aliás, podem até ser considerados pequenas emissoras de TV (alguns têm até estúdio para entrevista ao vivo, por exemplo).
Ainda sobre a estiagem no Amazonas, que levou o governador Wilson Lima (União Brasil) a decretar estado de emergência por 90 dias, a maioria das notícias divulgadas é material de assessoria. Nem poderia ser diferente. O governo possui estrutura para chegar às regiões mais atingidas. Missão quase impossível para os veículos de comunicação, pelos altos custos. Além da grande distância entre Manaus e vários municípios, a vazante secou rios, impedindo a navegação regular.
Ações do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), a exemplo de entrega de embarcações para comunidades rurais, também é material divulgado pela assessoria. Inegável que é informação de interesse público. É notícia importante, precisa ser divulgada para conhecimento da população. É diferente de outro caso, uma espécie de acomodação de quem deve buscar notícia e tem obrigação de fazer questionamento.
Tornou-se comum esperar que autoridades se manifestem nas suas respectivas redes sociais. Aí, é copiar e colar. Na realidade, apenas repete o que autoridade falou. É um recurso válido em certas circunstâncias, mas não deveria ser a regra. Afinal, a tecnologia apenas possibilitou a criação de novas formas para levar notícia ao público. Mudou a forma, mas não mudou a essência.
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