Eleição e o esquentar dos tamborins
Se eleição fosse uma escola de samba, a essa altura “os carnavalescos” já estariam a “esquentar os tamborins” para a grande festa que, ao final, mostrará quem venceu a “guerra”. No caso, quem decide é um corpo de jurados, todos bem conhecidos.
Na eleição, quem decide são milhões de eleitores, de forma individual e anônima, direto na urna eletrônica. E o Brasil já se prepara para um novo pleito: o 1º turno da eleição municipal, para escolha de prefeitos e vereadores, será no dia 6 de outubro de 2024.
Eleição em 5.568 municípios. Fora da eleição municipal apenas Brasília (sendo Distrito Federal não é considerado estado e não tem prefeitura) e Fernando de Noronha (território insular de Pernambuco, tornou-se o único distrito estadual do Brasil, em 1988).
De acordo com o calendário eleitoral, a eleição de segundo turno será em 27 de outubro, último domingo do mês. Eleitores amazonenses escolherão prefeitos dos 62 municípios do estado (incluindo a capital, Manaus), além de vereadores. A disputa pela prefeitura de Manaus, sempre muito acirrada, pode ter dois deputados brigando pela cadeira de David Almeida (Avante), candidato natural à reeleição.
O deputado federal Amon Mandel (Cidadania) foi um dos primeiros a sinalizar a entrada no jogo. Nas últimas semanas, o presidente da Aleam (Assembleia Legislativa do Amazonas), Roberto Cidade (União Brasil), escancarou a intenção de enfrentar David Almeida, com quem já iniciou troca de farpas. Fato muito registrado pela imprensa local.
Amon Mandel exerce seu primeiro mandato de deputado federal, depois de dois anos vereador de Manaus, enquanto Roberto Cidade foi reeleito deputado estadual em 2022. Além de presidente da Aleam, Cidade é filiado ao mesmo partido do governador Wilson Lima, com quem vem demonstrando muita afinidade em discursos e aparições públicas.
Antes do rufar dos tamborins, David Almeida e Wilson Lima mantinham (oficialmente ainda mantêm) uma parceria administrativa, algo não muito comum entre prefeito e governador. WL é governador até 2026, mas o mandato de DA acaba em 2024, e por isso ele busca a reeleição.
O surgimento de RC entre os dois parceiros deve provocar mudança na relação. Nada inédito, é claro.
E sobre os demais pretensos candidatos à prefeitura de Manaus? No mês de julho deste ano, houve o que se costuma chamar de “balão de ensaio”, quando o empresário Armando Mendes, filiado ao PSDB, sugeriu que poderia concorrer.
A notícia foi divulgada em vários veículos de comunicação. Armando é filho de Amazonino Mendes (falecido), único político do Amazonas eleito governador do estado em quatro mandatos, além de ter sido prefeito e senador.
Em entrevista ao jornalista Jefferson Coronel, Armando Mendes contou que vem de uma família de políticos (um avô prefeito e uma avó vereadora). “Nesse período todo a política fez parte da minha vida. Nunca me candidatei, mas se fosse candidato certamente meu pai me apoiaria”, declarou no programa Meio Dia, da Rede Onda Digital, no dia 25 de julho.
Foi o bastante para render manchetes do tipo “Filho de Amazonino deve disputar Prefeitura de Manaus” e “Filho de Amazonino, Armando Mendes, não descarta candidatura à prefeitura de Manaus”. Mas, passados três meses, não se falou mais nisso (pelo menos, publicamente).
É preciso registrar que pesquisas de opinião já mostraram que o principal adversário de David Almeida é Amon Mandel. O ex-deputado federal José Ricardo (PT) é nome também lembrado em pesquisas de opinião.
Em pesquisa espontânea, eleitores lembraram da deputada estadual Alessandra Campêlo (MDB) e da defensora pública Carol Braz (na eleição de 2022, no PDT, ela concorreu ao governo estadual, mas não passou para o segundo turno).
Nos últimos meses, surgiu um nome feminino no Partido dos Trabalhadores. Anne Moura, secretária nacional de Mulheres do PT, afirmou estar “preparadíssima” para ser candidata. Ao declarar a sua pré-candidatura, Anne garantiu: “Tenho uma animação muito grande com isso. Estou à disposição do meu partido, à disposição da minha cidade e do meu estado. É uma decisão que vai depender da direção partidária em Manaus e da direção nacional, mas eu estou preparadíssima”.
A declaração mereceu ampla divulgação nos veículos de comunicação locais. Porém, da mesma forma que aconteceu com Armando Mendes, o nome de Anne Moura parece ter sumido do noticiário.
No último dia 24 de outubro, terça-feira, Manaus completou 354 anos. Data comemorada em diversas manifestações, tanto da parte do poder público quanto de moradores, com as esperadas declarações de amor pela cidade. Mas, faltando menos de 50 anos para festejar o aniversário de 400 anos, Manaus nunca elegeu mulher para a prefeitura.
Esse foi o tema da coluna, publicada no dia 14 de setembro deste ano, quando também lembrou que o Amazonas até hoje não teve mulher governadora. A coluna lembrava que, para o Portal do Holanda “parece um assunto muito distante”, mas não deveria ser. E sugeria que a questão entrasse em pauta do portal, o que não aconteceu até hoje.
“Áreas vermelhas”
Por outro lado, coube ao Portal do Holanda fazer uma abordagem diferente sobre, digamos, a lodo oculto da atual pré-campanha eleitoral. Na coluna Bastidores da Política, desta quarta-feira 25, ao falar sobre a eleição 2024, o diretor-geral Raimundo de Holanda questiona o comportamento de pré-candidatos.
Mais exatamente daqueles que, para fazer política, entram em locais chamados de “áreas vermelhas”, onde criminosos atuam. Segundo ele, o fato de candidato entrar em tais áreas “com a permissão do chefe do tráfico, já configura submissão e rendição”.
Imaginar que, de algum modo, o crime organizado possa ter alguma influência na eleição, é preocupante. Uma coisa é a rivalidade dos palanques, nos discursos inflamados de candidatos.
Outra coisa é a possibilidade de participação de “forças ocultas” na maior demonstração da democracia de um país, que são as eleições, quando a população, livremente, escolhe seus representantes para o legislativo e o Executivo.
Não é de hoje, no entanto, que essa “possibilidade” é considerada “concreta”, inclusive em discursos de políticos importantes. Esse é mais um desafio para a imprensa, nesses tempos de guerras, que é igual a matança.
Que a festa da democracia, na figura de eleições livres, tenha apenas adversários e não inimigos. Com os tamborins em ação. Mais do que nunca, ter esperança é preciso.
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