Manaus nunca elegeu mulher para a prefeitura
Falta pouco mais de um ano para que eleitores do Brasil escolham novos vereadores e prefeitos para os 5.568 municípios do país. No Amazonas, o pleito será realizado nos 62 municípios, incluindo Manaus, que até aqui não elegeu nenhuma mulher para o cargo mais alto da administração municipal. Até que houve tentativa, mas as candidaturas femininas ficaram pelo meio do caminho. Ou na vontade, longe até das convenções. Pelo menos nos últimos 20 anos (conforme se pode verificar no site do Tribunal Eleitoral e nos meios de comunicação).
De todas as eleições de 2004 até agora, apenas a de 2012 teve mulher no segundo turno: a senadora Vanessa Grazziotin, que enfrentou o ex-senador Arthur Neto e saiu derrotada. Quase uma revanche: dois anos antes (2010), Arthur perdeu a eleição para o Senado, com a vitória de Vanessa (ela exerceu todo o mandato de oito anos). Um rápido registro: em 2004, todos os seis candidatos a prefeito de Manaus eram homens. Em 2008, idem. Em 2016, nove candidatos. Em 2020, 11 candidatos, sendo um deles David Almeida (Avante) que, em 2024, estará no páreo, em busca da reeleição.
De tudo o que se comentou até aqui, deve ficar claro que apenas a capital, Manaus, ainda não teve uma prefeita eleita. Vários municípios do interior já elegeram mulheres e pesquisas começam a mostrar que algumas se mostram dispostas a entrar na próxima disputa. Também é preciso ser dito que, embora por uns poucos dias, no mês de fevereiro deste ano, a prefeitura de Manaus esteve sob o comando de uma mulher: a vice-presidente da CMM (Câmara Municipal de Manaus), Yomara Lins (PRTB).
Ela assumiu o cargo porque o prefeito David Almeida e o vice, Marcos Rotta (PP), ficaram ausentes de Manaus. Nesse tipo de situação, quem substitui o prefeito é o presidente da CMM. No caso, Caio André (PSC). Mas ele também teve de viajar e por isso Yomara Lins, interinamente, assumiu o cargo. A imprensa divulgou o fato. “Manaus tem uma mulher no comando da prefeitura pela 1ª vez na história”, foi a manchete do G1 AM. A prefeita interina também apareceu em várias outras reportagens. Compreensível. Mas, o que se pode esperar da eleição de 2024?
Nos últimos dias, um nome feminino passou a ser citado na mídia. Anne Moura, secretária nacional de Mulheres do PT, já declarou estar “preparadíssima” para ser candidata. Aos 36 anos, tem o ensino médio completo e uma história de vida dedicada ao partido, conforme deixa claro em entrevistas. Por outro lado, o deputado estadual Sinésio Campos (PT) já afirmou que o partido terá candidatura própria. Significa que não há intenção de aliança com David Almeida. “Agora o PT tem que ser protagonista”, afirmou Sinésio durante uma recente entrevista aos jornalistas Rosiene Carvalho e Rafael Campos, na rádio Band News Manaus.
Se confirmado o desejo de Anne Moura, será a sua segunda experiência em campanha eleitoral: em 2022, ela foi a vice, na chapa do senador Eduardo Braga (MDB), para o governo do Estado. E numa pesquisa divulgada no dia 24 de agosto, dentre os dez nomes lembrados pelos leitores (na sondagem espontânea), Anne e mais duas mulheres aparecem: a deputada estadual Alessandra Campêlo e a defensora pública Carol Braz. Na lista dos dez, no entanto, os dois mais citados foram David Almeida e o deputado federal Amom Mandel (Cidadania). Os dois, muito na frente dos demais.
Este 2023 é um ano pré-eleitoral, espécie de aquecimento para o próximo ano, mas ainda não está recebendo muita atenção da mídia. Pelo menos no Portal do Holanda, parece um assunto muito distante. Mas não deveria ser. Há questionamentos interessantes nessa engrenagem que é a política. Veja-se o caso de Manaus: num conjunto de 41 vereadores, apenas quatro são mulheres. De 24 parlamentares estaduais, cinco são mulheres. Ainda são muito poucas, é verdade. E o que elas poderiam dizer sobre esse fato? Por que não se arriscam a conquistar um lugar no Executivo municipal e estadual? É pauta que pode render boas reportagens.
O Estado do Amazonas também nunca passou pela experiência de eleger uma governadora. Dentre as atuais deputadas estaduais, por exemplo, há advogada, jornalista, médica. É outra pauta. Nos municípios do interior, a proximidade da eleição altera a rotina. Há mulheres que participam ativamente na vida política, inclusive na condição de candidatas à prefeitura. Não apenas mulheres, mas também homens, todo mundo, direta ou indiretamente, participa desse momento. E é desejável mostrar tal realidade.
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