PF encontra áudio de Bolsonaro e Ramagem sobre tentativa de blindar Flávio

A Polícia Federal identificou um áudio clandestino gravado durante uma reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin. A gravação, obtida em um computador de Ramagem, mostra uma conversa no Palácio do Planalto, em 2020, na qual ambos discutem formas de questionar um relatório da Receita Federal que deu origem à investigação das “rachadinhas” envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Ramagem e Bolsonaro foram indiciados nesta terça-feira (17) por suspeita de coordenarem um esquema de espionagem ilegal por meio da chamada "Abin paralela".
Segundo a PF, o encontro tratava de supostas irregularidades cometidas por auditores da Receita durante a elaboração do Relatório de Inteligência Fiscal (RIF) que embasou a apuração sobre Flávio. A reunião também contou com a presença de advogadas do senador, que sugeriram estratégias para derrubar o relatório. Parte do conteúdo dessa conversa foi encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que já investiga o uso político da estrutura da Abin durante o governo Bolsonaro.
A existência da “Abin paralela” já havia sido apontada em 2020 pela imprensa. Na época, foi revelado que a agência de inteligência produziu relatórios para orientar a defesa de Flávio no caso das rachadinhas. Em um dos trechos do áudio, Ramagem sugere instaurar um processo administrativo contra os auditores da Receita para tentar anular o relatório e remover servidores dos cargos. O relatório da PF indica ainda que o grupo buscou informações pessoais e políticas dos auditores envolvidos na investigação.
Tanto Bolsonaro quanto Ramagem não comentaram o novo indiciamento. Em manifestações anteriores, ambos negaram a existência de qualquer estrutura clandestina na Abin e negaram envolvimento em monitoramentos ilegais. A Abin afirmou, por nota, que está à disposição das autoridades e que os fatos investigados dizem respeito a gestões anteriores. Flávio Bolsonaro, que não foi indiciado, negou qualquer ligação com a estrutura investigada e alegou que teve seus dados acessados ilegalmente por “criminosos”.
O caso faz parte de um inquérito mais amplo da PF sobre o uso da Abin para fins pessoais e políticos durante a gestão de Bolsonaro. O sistema FirstMile, uma ferramenta de rastreamento, também está no centro das investigações e foi usado para monitorar autoridades, jornalistas e adversários do governo. Ramagem, que comandava a agência à época, nega que a ferramenta tenha sido usada irregularmente e afirma que sua gestão foi a única a adotar controles internos contra abusos.
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