Homem que morreu em jaula é enterrado só com a presença de mãe e prima; veja trajetória
Foi sepultado nesta terça-feira (2), no Cemitério do Cristo, em João Pessoa, o corpo de Gerson de Melo Machado, 19 anos, que morreu após invadir a jaula de uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara.
O enterro ocorreu sob intensa comoção, mas foi acompanhado apenas pela mãe, Maria da Penha Machado, e uma prima. A mãe, que perdeu o poder familiar há mais de uma década, precisou ser amparada para reconhecer o filho no Instituto Médico-Legal (IML).
Gerson, conhecido como Vaqueirinho, morreu no domingo (30) após escalar as estruturas de proteção do parque, descer por uma árvore e acessar a área interna dos felinos. Ele foi atacado imediatamente pela leoa, batizada de Leona. O laudo inicial indicou mordidas no pescoço e choque hemorrágico.
O incidente levou a Prefeitura de João Pessoa a abrir uma apuração sobre as condições de segurança do parque.
A trajetória de Gerson de Melo Machado foi marcada pela vulnerabilidade, abandono e doença mental desde a infância.
Abandono Familiar: Sua mãe, portadora de esquizofrenia, perdeu o poder familiar. Gerson, que não tinha o nome do pai na certidão, teve o nome da mãe retirado aos 10 anos para facilitar uma possível adoção, mas nunca foi adotado. Todos os seus irmãos encontraram novas famílias.
Transtorno Mental: Conselheiros tutelares apontam que Gerson era sumariamente rejeitado para adoção devido aos seus transtornos mentais. Ele passou a escapar dos abrigos e, aos 12 anos, buscava a mãe, apesar de ela também lutar contra a esquizofrenia.
Diagnóstico Tardiamente: Diagnosticado oficialmente com esquizofrenia aos 18 anos, Gerson tinha sua percepção da realidade e capacidade de julgamento comprometidas. Sua condição de inimputável foi registrada em processo criminal por atos cometidos durante surtos psicóticos.
Fuga e Fantasias: Gerson tinha fantasias recorrentes de ser aceito por felinos. Em um episódio grave, ele foi encontrado no trem de pouso de um avião no aeroporto de João Pessoa, tentando viajar para a África, onde dizia que seria "domador de leões" e encontraria um lugar onde não fosse rejeitado.
A Busca Final: Dois dias antes de sua morte, ele procurou o Conselho Tutelar pedindo seus documentos para tentar conseguir um emprego. Sua vida, registrada em quase duzentas páginas de prontuário, foi uma sucessão de falhas nas tentativas de acolhimento e no tratamento adequado de sua doença.
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