Como Marília Mendonça, corremos o risco de sair de casa e nunca mais voltar…
A morte acompanha a vida e a extingue com um sopro. Sabemos disso pelas perdas que tivemos. Mas é curioso que ela se apresente com toda a sua majestade quando uma figura pública "desaparece". É como se entrasse sorrateiramente em nossa casa apenas para dar um recado: "olá! Até breve!!" E o choro é coletivo, a tristeza é coletiva, o luto é de todos.
Na sexta-feira, quando o avião que conduzia a cantora Marilia Mendonça caiu, provocando a sua morte, já haviam morrido de acidente de carro, motos, além de assassinatos, ao menos 700 brasileiros. Gente anônima para as quais não houve luto, nem lágrimas. Pedaços de gente sobre o asfalto, sangue no beco ou um corpo despedaçado em um saco de lixo, como o achado em Manaus.
Corpo enrolado em saco é encontrado em bairro de Manaus
Alguns deles saíram de casa para trabalhar e não voltaram. Como Marília, tinham seu próprio show. Saíram sem dizer adeus, sem beijar os filhos ou a esposa. Sabiam, ou imaginavam, que voltariam. Não voltaram.
O que fica de tudo isso é uma lição: alguns, como Marilia Mendonça, brilham mais e esse brilho se espraia após a morte, contagiando milhares de pessoas. Outros não tem brilho, desaparecem como a água sugada pela terra. Outros ainda deixam o pequeno mundo que construíram em um caos, pois sem eles a família degenera.
O fato é que a tragédia da vida dos outros tem relação com a vida da gente. Toda a vida que se esgota violentamente é um alerta.
Não que devamos estar prontos para morrer, mas precisamos estar focados em construir um mundo melhor para nossas famílias, nossa cidade, nosso país. Afinal, todos os dias corremos o risco quando saímos de casa. O risco de nunca mais voltar…
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.