Guedes delira ao falar da Amazônia e dos bolsões de pobreza em Manaus
Tecnologia Verde, ministro, é outra coisa. Exige investimento em pesquisa, em capital intelectual, no fortalecimento das universidades. E o que mais o Brasil tem perdido durante o governo Bolsonaro são cérebros. Ao contrário do que diz o ministro, a Amazônia não precisa nem do Google, nem da Apple ou da Tesla. A Amazônia precisa de um governo que olhe para ela, para a sua biodiversidade e entenda que essa é uma riqueza inestimável
O ministro Paulo Guedes delirou literalmente ao defender incentivos fiscais para a Tesla, o Google e a Apple caso queiram se instalar na Amazônia, para ele, “o novo vale do silício verde”. E misturou Las Vegas, a terra do jogo, com turismo ambiental na floresta. Pior, atacou o atual modelo de desenvolvimento regional, ao dizer, durante painel da Conferência sobre o clima que vem sendo realizado em Glasgow, na Escócia, que “há uma atividade industrial obsoleta na região, que produz cinturões de pobreza e deixa a população vulnerável, como foi vista em Manaus durante a Covid 19". Referia-se a quê, senão a Zona Franca de Manaus? Não precisou citar a ZFM nominalmente, mas está explícito em sua fala.
A questão é elementar: o que tem a Tesla, o Google ou a Apple com a Amazônia? As atividades que desenvolvem nada tem a ver com o legado que a região pode oferecer para o futuro da humanidade. Tecnologia Verde é outra coisa, exige investimento em pesquisa, em capital intelectual, no fortalecimento das universidades. E o que mais o Brasil tem perdido durante o governo Bolsonaro são cérebros.
Agora mesmo há uma proposta de dividir ao meio a Fundação Universidade do Amazonas para dar origem a uma outra instituição, não porque o governo queira descentralizar nada, desenvolver a ciência, expandir o conhecimento. A ideia é outra: empregar políticos, cabos eleitorais e militares decadentes.
O vale do silício é uma somatória de investimento, pesquisa, inovação tecnológica. E as grandes empresas ali instaladas não surgiram do dia para a noite: foram crescendo a partir do momento em que faziam descobertas, pesquisaram e ajudaram os Estados Unidos a ser o que são hoje.
Ao contrário do que diz o ministro, a Amazônia não precisa nem do Google, nem Apple ou da Tesla. A Amazônia precisa de um governo que olhe para ela, para a sua biodiversidade e entenda que essa é uma riqueza que pode ser explorada a partir de suas universidades, de seus institutos de pesquisa, quase todos falidos pela o desprezo do governo Bolsonaro com a ciência.
Guedes, como contador de histórica tem um discurso irretocável. Mas suas histórias não tem pé nem cabeça. Nem as criancinhas entendem como o ministro consegue ser tão infantil e vulgar.
O mais impressionante é o espaço que a mídia dá a declarações que fogem à realidade, são claramente um subterfúgio, uma maneira de autoengano e de fuga de um mundo novo do qual o Brasil se tornou um pária.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.