Um vereador de Porto Alegre tentou criar o Dia Municipal do Patriota e agora um deputado federal de São Paulo apresentou projeto para instituir o Dia Nacional do Patriota. No primeiro caso, mesmo aprovado, a tentativa acabou frustrada: a proposta foi derrubada pela Câmara Municipal da capital gaúcha, na última segunda-feira 28. Mesmo dia em que o ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou a revogação da polêmica lei municipal. Mas a ideia do vereador Alexandre Bobadra (PL) foi copiada pelo colega de partido Adilson Barroso (PL-SP) que, inclusive, usou expressões semelhantes para justificar o intento. 

Ambos divergem apenas sobre as datas: o agora ex-vereador (teve o mandato cassado por “abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação”) queria o Dia Municipal do Patriota para 8 de janeiro. Por “coincidência”, o dia do quebra-quebra em Brasília, quando bolsonaristas invadiram e causaram estragos nos prédios dos três poderes. Já o deputado de São Paulo propõe o Dia Nacional do Patriota para 21 de março, exatamente a data do aniversário do ex-presidente Jair Bolsonaro que, também por “coincidência”, é filiado ao PL. Se aprovado, poderá ser até apelidado de “Dia Alfaiate” (=feito sob medida).   

Detalhe curioso: o projeto apresentado pelo deputado federal, propondo a homenagem para o dia 21 de março, deu entrada no protocolo da Câmara um dia depois da revogação da lei municipal de Porto Alegre.  Conforme a imprensa nacional, Barroso não explica a opção pela data escolhida. Apenas afirma que o patriotismo está “desgastado” aqui no Brasil e o respeito à bandeira e ao hino nacional estão “banalizados”. Reportagem da Veja diz que Barroso “copiou partes do projeto de Porto Alegre”.  A revista cita parte do texto, para comprovar a afirmação.  

“O hino, a bandeira nacional, os heróis de sua história, compõem também o rol de símbolos que representam a nação e que devem ser honrados, defendidos e valorizados. Assim, o Patriotismo é o amor genuíno que um indivíduo nutre pela história de seu território ou de sua nação, uma identificação sincera com sua identidade cultural historicamente construída, segundo o filósofo Luiz Felipe Pondé”, diz o trecho copiado. 

O Dia do Patriota pode ser mais um no calendário nacional do Brasil onde, além dos tradicionais Dia Internacional da Mulher, Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia das Crianças e até Dia do Amante, passando pelo Dia da Sogra e Dia das Irmãs, ainda tem o Dia da Costureira (25 de maio) e o Dia do Alfaiate (16 de setembro). Ninguém duvida ou contesta essas datas de homenagens. Talvez também ninguém duvide de que pais, mães, irmãs, costureiras,  alfaiates e amantes sejam patriotas. Mas a inegável beligerância político-ideológica entre brasileiros, nos últimos anos, leva a essa ideia absurda de que uma parte do país é mais “patriota” do que a outra. 

Depois desses dois exemplos aqui citados, pode ser que a moda “pegue” e chegue por aqui. Na Assembleia Legislativa, três deputados são filiados ao PL: Cabo Maciel, Débora Menezes e Delegado Péricles. Débora, no primeiro mandato, conseguiu aprovar um projeto que concede a Michele Bolsonaro o título de Cidadã do Amazonas. Isso no mês de abril deste ano. A ex-primeira-dama ainda não conseguiu vir receber a honraria (envolvida no escândalo das joias, junto com o marido, seu nome, digamos assim, não é mais exclusivo das páginas de política). 

Ainda sobre o Dia do Patriota, não seria surpresa igual iniciativa partir de algum parlamentar amazonense pró-Bolsonaro. Sugestão ao Portal do Holanda: que tal ouvir alguns deles? Além dos três deputados do PL e, pelo menos, dois vereadores de Manaus (Glória Carrate e Professor Samuel), há conhecidos apoiadores de outros partidos. Afinal, se a onda começou pelo Sul e Sudeste, pode chegar ao Norte. Quem sabe também pode ser algo diferente de apenas copiar e colar.

Enfim, parodiando Geraldo Vandré, “quem sabe faz a hora/não espera acontecer”.