A fantasia com o goleiro Bruno no Porão do Alemão e a mensagem nela contida
Como é tênue a fronteira que nos separa do mal. E como somos colocados a prova todos os dias. Nem precisamos ser os protagonistas de uma incursão sinistra "do outro lado dessa fronteira” para percebermos o quanto somos atraídos pela escuridão. Seja porque falsamente nos julgamos bons e superiores, seja porque reconhecemos que somos nós mesmos, com nossas fraquezas, nossa cobiça, nossos medos, nosso desejo de sobrepujar o outro, de prevalecer sobre o outro. Só quem reconhece esse defeito de origem, pode vencer o mal.
O “escândalo” provocado pelo rapaz fantasiado de goleiro Bruno, carregando um saco simbolizando o corpo esquartejado de Eliza Samudio, apenas revela nossa espantosa hipocrisia.
A foto, postada no site da boate Porão do Alemão, provocou a ira de deputados, falou-se em apologia ao feminicídio. Um delegado veio a público dizer que "a intenção, em tese, era fazer um concurso de fantasias. Mas, na prática, houve uma conduta passível de investigação criminal, que desrespeita todas as mulheres de Manaus e do Brasil , fazendo "brincadeira" com um tema tão grave de 10 anos". Exagero do delegado.
O rapaz já perdeu o emprego. A empresa na qual trabalhava, um estúdio de tatuagem, apressou-se em dar uma nota repudiando o comportamento do empregado. Mas o que é o Halloween senão o encontro de dois mundos? Essa é a sua origem pagã, especialmente entre os celtas que acreditavam que os mortos permaneciam entre os humanos. Sua origem não é a que se apresenta hoje, “humanizada”, na qual se distribui doces e se faz travessuras.
O que o rapaz que se fantasiou de Bruno fez foi uma simples travessura. O que fez além disso foi mostrar que a fronteira entre o bem e o mal é tênue.
Mais do que seu gesto, muito mais, o que choca é a constatação de que aqueles que se manifestaram precipitadamente ignoram que vivem nessa fronteira. De que estão a um passo da escuridão. E a fantasia pode ter trazido um recado: cuidado, não ultrapassem essa fronteira, o mal está a um passo…
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.