O mercado reagiu mal à substituição do ministro da Fazenda Joaquim Levy por Nelson Barbosa e está atento a uma possível mudança no discurso do governo em relação à política econômica. De acordo com o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o nome do titular da Fazenda leva mais insegurança aos mercados, mesmo que as decisões da política econômica estejam muito mais ligadas à presidente Dilma Roussef que ao novo ministro.

"Os mercados já pioraram nos últimos dias com os rumores sobre Levy. Parte do aumento da insegurança já foi precificado, mas ainda pode haver mais efeitos sobre os preços”, avalia Lima. Para ele, caso seja adotada uma direção diferente daquela apontada por Levy para a política econômica, o governo precisará mostrar o que pretende fazer. "O mercado vai querer entender como vai ser (a mudança), se vai haver extensão de prazo de convergência fiscal ou mais redução da meta", explica.

A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), avalia que a escolha foi “muito ruim” já que segundo ela, o substituto não tem independência e sofre influência direta de Dilma Roussef.  ”É preciso ter uma certa autonomia de pensamento para complementar as medidas necessárias do ajuste fiscal. Ele (Nelson Barbosa) não fará”, diz.

 A peemedebista considerou ainda que agora, no momento em que o governo começa a dar sinais positivos após ter aprovado um orçamento e conseguido várias vitórias no Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao processo de impeachment, não era uma “boa hora” para trocar o ministro da fazenda. 

Para Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda, a incerteza dos agentes econômicos e o ambiente hostil no Congresso Nacional serão um grande desafio para Barbosa. "O governo tem pela frente um ambiente de baixa popularidade e uma base fragmentada”, afirma. Ele acredita que a saída possa fazer com que o ajuste fiscal seja mais gradual em intensidade e tempo de execução: "O ministro Nelson Barbosa pode assumir uma postura de fazer o ajuste fiscal enquanto estimula o crescimento”.

O sócio-diretor da Canepa Asset Management, Alexandre Póvoa, acredita que embora o nome do novo ministro desagrade o mercado financeiro, pode haver alguns atenuantes. Para ele, caso sejam verdadeiros os rumores que Barbosa não era a primeira opção de Dilma Roussef, isso diminui o receio de uma nova “guinada à esquerda” no governo:  "Dizem que o Barbosa era o terceiro da lista, depois de Marcos Lisboa e Otaviano Canuto, então isso é um bom sinal. A presença de Levy no governo, mesmo que não conseguindo aprovar muita coisa, era um sinal de que nenhuma maluquice seria feita”, afirma.