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Arlon Viana Lima é o homem de Temer na máquina do PMDB paulista

Por Agência O Globo

02/07/2017 19h07 — em
Brasil



SÃO PAULO—Quando seu pequeno negócio de transporte de carne bovina entrou em crise financeira definitiva, há cerca de 20 anos, Arlon Viana Lima bateu à porta dos velhos colegas do PMDB, partido no qual militava desde 1972. Político de vôo eleitoral curto, tentara ser deputado estadual uma única vez, em 1998. Sua situação financeira, no entanto, era tão ruim, que ele desistiu da campanha no meio por falta de dinheiro. De acordo com amigos da época, Arlon estava a ponto de ser despejado de casa quando foi alocado como ajudante de ordens no escritório paulista do então deputado federal Michel Temer.

— Era uma pindaíba, mas faz tanto tempo que eu nem gosto de falar disso — disse Arlon ao GLOBO.

Parecia pouco provável que, décadas depois, ele viria a ser o chefe do gabinete presidencial em São Paulo, responsável por indicar diretores do maior entreposto alimentício da América Latina, o CEAGESP, e um dos mais importantes dirigentes partidários do PMDB no estado de São Paulo.

— Você não marca uma reunião com Michel Temer hoje se não for pela intermediação do Arlon. É um assessor da maior confiança do presidente, todo mundo sabe — afirmou a ex-secretária municipal da pessoa com deficiência de São Paulo Marianne Pinotti, que foi filiada ao PMDB.

Arlon chamou a atenção dos investigadores da Operação Lava-Jato quando seu nome surgiu em meio às investigações sobre reformas feitas em casas de parentes de Temer. Tanto a filha, Maristela, quanto a sogra do presidente, Norma Tedeschi, teriam sido beneficiadas por reparos em casas cuja execução seria responsabilidade de Arlon e de João Baptista Lima, “o coronel Lima”, tido como aliado de primeira ordem de Temer. Em uma busca e apreensão na casa de Lima, há menos de um mês, a Polícia Federal encontrou documentos rasgados com informações sobre a reforma. Desde então, Arlon se contradisse sobre sua participação em tais obras. Negou, confirmou e ao GLOBO tentou demonstrar pouca intimidade com o assunto:

— Não, na verdade acho que talvez foi lá uns anos atrás, não sei, não vou nem te precisar data porque eu sou ruim de negócio de data. Mas faz uns 3, 4 anos isso. O presidente me perguntou 'você não conhece uma pessoa de confiança para pintor?' Falei: 'conheço'. (O presidente respondeu): 'então manda pra mim lá'. A partir daí, nunca mais. A pessoa foi lá, pintou, não pintou. Se foi ele, se não foi... Mas acho que foi. Mas eu não coordenei nada, imagina. Nem sei como ficou, nem sei onde é a casa.

Para correligionários peemedebistas, a ascensão de Arlon se deve justamente à sua habilidade de ter atraído a simpatia do Coronel Lima. De jeito simples e despachado, filho de um lavrador baiano de algodão, Arlon se auto-intitula um conservador. Na infância, costumava ir com o pai assistir a comícios do então governador paulista Adhemar de Barros. Embora o site do PMDB o intitule como economista, ele mesmo admite que não chegou sequer a concluir um curso técnico de contabilidade e afirma não saber quem foi o responsável por turbinar seu currículo na página do partido. A personalidade amigável somada ao estilo prestativo o teriam levado a se tornar braço direito de Lima.

O Coronel da Polícia Militar já era um homem forte no grupo de Temer desde que ambos trabalharam juntos na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, entre 1984 e 1986. A influência de Lima sobre o presidente teria facilitado o processo de substituição de antigos funcionários de Temer por Arlon. O chefe de gabinete, porém, rechaça essa explicação:

— O Coronel Lima é meu amigo pessoal, nada a ver com política. Minha relação com ele é de uma amizade gostosa.

Para Arlon, ele se tornou importante para Temer porque o ajudou a ganhar penetração no ninho paulista do PMDB, historicamente dominado pelo ex-governador Orestes Quércia.

— Michel nem conhecia direito o partido, eu que apresentei para ele. E permaneci com ele até hoje — afirma, sem falsa modéstia.

Com a morte de Quércia, Arlon ganhou mais proeminência no diretório paulista do PMDB, passando a ocupar sucessivamente os cargos de secretário, tesoureiro, presidente. Independentemente do posto, atribui-se a ele o poder de decidir, ao lado do deputado federal Baleia Rossi e do deputado estadual Jorge Caruso, quem serão os candidatos a prefeito nos municípios paulistas e como a máquina local funcioná. Na tríade, Arlon é quem fala em nome de Temer. Alguns ex-candidatos a prefeituras paulistas afirmaram, em condição de anonimato, que Arlon costuma cobrar dinheiro para ceder a legenda ou para oferecer apoio em coligações, acusações que ele nega. O chefe de gabinete também é considerado um dos grandes controladores do CEAGESP. O maior entreposto alimentício da América Latina, sob gestão direta do Ministério da Agricultura, possui 60 cargos de indicação política. Arlon reconhece ter sido conselheiro administrativo do CEAGESP em meado dos anos 2000, período em que o PMDB controlou a pasta da Agricultura, mas diz que o entreposto não é sua área de influência:

— Ficou a impressão de que eu mando no CEAGESP, mas o que eu tinha lá eram amigos. Às vezes a pessoa me pede um emprego, se tiver uma vaga eu indico, mas tem que trabalhar. Foi o que aconteceu lá. Mas hoje, se tiver, há um indicado meu, ou dois, ou três, no máximo — defendeu-se.

Ex-secretários municipais do PMDB ainda afirmaram que Arlon costuma indicar pequenos empresários como fornecedores das prefeituras, sugerindo formas de burlar a licitação na contratação. Tal procedimento teria gerado constrangimentos para ele com o ex-secretário de educação de São Paulo Gabriel Chalita, para quem Arlon teria indicado fornecedores de merenda, e com a ex-secretária de assistência social, Luciana Temer, uma das filhas do presidente. Arlon nega. Chalita e Luciana não foram localizados para comentar.

Nas últimas semanas, o chefe de gabinete tem traído um certo nervosismo. Em seu microblog, reduziu o número de posts sobre o Corinthians, seu time de coração, e aumentou a carga de comentários políticos, eventualmente de tom ameaçador. Em 6 de junho, mirando aliados que ameaçavam o governo, Arlon disparou: "caça às bruxas, serão necessários" (sic) e “a vingança, será maligna" (sic). Preocupado com sua própria condição jurídica, fez uma limpa nos documentos da sua casa e, a amigos, tem repetido, em tom de piada, que se a Polícia Federal fizer uma busca e apreensão em sua casa, "só vai levar susto".


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