Motoboys lotam Câmara de São Paulo em pressão por liberação de app de motos
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dia depois de Amanda Paschoal (PSOL) acusar Lucas Pavanato (PL) de transfobia por discurso na Câmara de São Paulo, os dois vereadores dividiram protagonismo em audiência pública sobre a regulamentação do serviço de carona em motos por aplicativo.
O debate, que lotou o Salão Nobre, no oitavo andar da sede do Palácio Anchieta, contou com a participação da Uber e da 99, empresas que chegaram a oferecer o serviço na capital agora proibido por decisão judicial, do Ministério Público do Trabalho e de lideranças que buscam encabeçar o movimento dos motoboys.
A reunião foi convocada por Paschoal, mas foi o nome de Pavanato o gritado pelos motoboys quando anunciado pela própria vereadora, que presidia a mesa, no início da audiência. O vereador ajudou no coro de "queremos trabalhar, temos família para sustentar", mas se retirou do salão logo depois. Paschoal ficou e foi aplaudida em diversos momentos.
Já Pavanato voltou durante fala de Gringo, líder da Associação dos Motofrentistas Autônomos do Brasil (Amabr), que subiu ao púlpito vaiado sobre gritos de vendido e saiu de lá ovacionado. Também Jr. Freitas, anunciado como liderança do movimento de motoboys e que se apresenta nas redes sociais como militante da esquerda, inicialmente ouviu gritos contrários a ele, mas depois foi diversas vezes aplaudido.
A exceção foi Gilberto Almeida, presidente do SindimotoSP (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo), que entrou e saiu vaiado da audiência, na qual estava acompanhado de uma dezena de seguranças. Em coro, os manifestantes diziam que o sindicato não os representa e a fala dele foi diversas vezes interrompida.
"Eu vou entrar com uma ação contra a Uber e a 99 por prática antissindical. O que a 99 faz é crime: dar bonificação de R$ 1.000 para o trabalhador sair de casa para ter a moto apreendida, colocando uma categoria desinformada contra o prefeito, isso é crime", disse Almeida, conhecido como Gil dos Motoboys.
Em 2022, ele participou da campanha eleitoral de televisão pedindo votos para Aline Teixeira, então candidata a deputada estadual, e filha de Ricardo Teixeira (União), atual presidente da Câmara dos Vereadores e aliado do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Na quinta (6), Gil foi ao gabinete de Teixeira apresentar um projeto para regulamentar o serviço de moto-táxi em São Paulo. Ele defende que, enquanto essa regulamentação não ocorrer, o serviço seja proibido.
"Para um empresário de ônibus colocar um biarticulado na cidade de São Paulo, ele tem que desembolsar R$ 1 milhão, o busão tem que estar na categoria aluguel, o transporte coletivo, a perua escolar, táxi, tudo do mesmo jeito. Então por que nas motos é diferente? Só na cabeça de quem acredita no canto da sereia", disse ele, sob vaias, na audiência.
O líder do SindimotoSP foi o único a defender que os motoboys (ou motocas, como eles se apresentaram durante a audiência pública) sejam proibidos de oferecer serviço de carona por aplicativos. O encontro teve outras divergências, porém.
A principal delas, pelo papel de Uber e 99. As duas empresas, que enviaram representantes para defender a legalidade do serviço e reclamar da falta de dados sobre os acidentes de trânsito, foram inicialmente aplaudidas por parte dos motoboys, que chegaram a cantar "99, 99, 99" em coro.
Ao longo da audiência, esse comportamento mudou, especialmente a partir da fala de Gringo, que apresentou uma lista de motoboys parceiros da 99 que sofreram acidentes e que há meses aguardam resposta da empresa.
"Trabalhador igual a gente, que eles falaram que tinha seguro. Cadê o seguro? Aqui tem 41 casos de motoca que se acidentaram prestando serviço e não tiveram assistência nenhuma. Tem um aqui há 300 dias sem resposta", disse Gringo, bastante aplaudido.
Amanda Paschoal também defendeu que as empresas garantam assistência aos trabalhadores. "A gente precisa de saúde e segurança para os motoboys. Junto com o Jr. Freitas, apresentei solicitação para impedir a apreensão completamente arbitrária de motos e ainda hoje vou apresentar projeto de lei para anular todas as multas", disse a vereadora, sob gritos de apoio.
Já Jr. Freitas mirou o prefeito Ricardo Nunes (MDB). "Rolou uns dados de mortes de motoristas de aplicativos, dizem que está rolando uma carnificina, e quero colocar essa culpa no Ricardo Nunes, porque essas mortes aconteceram quando o mototáxi não existia. Então essas mortes foram causadas por outros aplicativos, que ele ignora. Qual é a responsabilidade que ele tem para enquadrar os responsáveis por essas mortes? Se pegar os dados de mortes, que a gente traga os responsáveis por essas mortes. Ele está sendo covarde."
A prefeitura não mandou representantes para a audiência pública. Era aguardada a presença de Enrico Misasi, secretário da Casa Civil.

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