'A fé nunca diminui, só aumenta', diz fiel na Marcha para Jesus
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Difícil quebrar a concentração da aposentada Ana Apareccida Giacomini, 58. Sentada na escada da porta de uma concessionária de automóveis, ela ouvia palavras da cantora Aline Barros, que se apresentava em um palco da Marcha para Jesus a alguns metros de onde ela descansava.
Mas demonstrou uma certa irritação ao ser questionada se o público evangélico estava crescendo menos que antes.
"A fé nunca diminui, só aumenta", afirmou a moradora de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo.
Dados do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados no início do mês apontaram que o ritmo de crescimento da população evangélica diminuiu. Os evangélicos são hoje 26,9% do Brasil, o segundo maior bloco religioso, atrás dos 56,7% que são católicos.
A aposentada contou ter chegado de metrô à região da Luz, onde começou a caminhada, e disse ter encontrado dificuldade, não pelo esforço físico, mas pela multidão que andava devagar à sua frente. "É muita gente. Você acha que está faltando gente com fé aqui?", questionou, ao se referir ao público da 33ª edição da Marcha para Jesus.
Para o engenheiro José Ricardo Gusmão, 42, não ali no ambiente onde estava, na multidão de adoradores de Deus, mas a descrença em geral deve ter crescido.
"Veja a política: as pessoas desconfiam de quem está lá, de quem passou e de quem quer chegar", disse. "Por isso, eventos como este aqui [Marcha para Jesus] são importantes. Fazem as pessoas crerem em algo maior e melhor."
Diferentemente de anos eleitorais, nesta edição o clima político não circulou intensamente entre a multidão. Mas a todo instante havia algum discurso por paz em Israel.
Se pudesse pedir alguma oração política, Aparecida Martins, 50, disse que gostaria que olhassem para gente como ela.
Moradora na Liberdade, na região central, a mulher marchou ao lado de Mel, uma vira-lata caramelo de 6 anos.
"A gente precisa de Justiça, eu preciso de Justiça", disse ela, afirmando que havia tempo que não falava com os filhos, sem explicar o motivo do afastamento.
Pelo quinto ano, ativistas do Movimento Igreja sem Política esticaram faixas em semáforos da avenida Brás Leme e distribuíram folhetos para tentar provar que fé e quem pede voto não podem ter uma relação.
José Luiz Barboza Filho, 53, vice-presidente do movimento, lembrou que numa diferença de poucos minutos, políticos de esquerda e direita discursaram no palco da Marcha para Jesus.
Para ele, principalmente na igreja evangélica, o uso político da religião tem afastado fiéis.
"Jesus ou seus apóstolos nunca se apresentaram como representantes de Estado para um político dizer que é representante de Deus", disse.
Segundo Barboza Filho, a aceitação do que o seu grupo defende é maior entre os que não têm religião ou que não são religiosos ativos.

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