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Atendimento médico é tão rápido que só se vê a dor física, diz especialista em medicina e espiritualidade

Por Folha de São Paulo

19/06/2025 8h00 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para Christina Puchalski, médicos precisam aprender mais sobre espiritualidade. É essa a mensagem que a médica americana fundadora do Instituto de Espiritualidade e Saúde da Universidade George Washington vem ao Brasil para pregar, no Mednesp, congresso de medicina e espiritualidade que acontece em São Paulo, desta quinta (19) até sábado (21).

Espiritualidade é um conceito amplo para ela -e para o consenso dos pesquisadores da área. "Pode ser religião, pode ser fé", diz, "é o senso de transcendência, propósito e significado de vida".

É, em outras palavras, a busca por algo sagrado sem que isso seja, necessariamente, ligado ao monoteísmo, à religião estruturada. Pode ser, diz Puchalski, até arte ou a natureza.

Quando ela começou a explorar esse campo nos anos 1990, ainda na faculdade, faltavam estudos na área. Puchalski diz que as poucas pesquisas eram na psicologia, não na medicina. Numa iniciativa da própria universidade, ela sugeriu uma disciplina eletiva sobre o tema.

Anos depois, a americana vê obstáculos para a implementação do tipo de cuidado que seria necessário para alinhavar essa ideia no atendimento médico.

"O atendimento clínico está ficando mais eficiente", diz."O que vejo acontecendo é que as consultas são tão curtas que focamos apenas na parte física e não temos a oportunidade de deixar os pacientes expressarem dores mais profundas."

Podem ser dores associadas a questões sociais, mas também às espirituais, como ela coloca. O que ela chama de "angústia espiritual", outro termo bastante amplo de seu léxico, inclui a falta de propósito, ausência de sentido, conflitos de fé -"como pensar que uma doença é um castigo divino", afirma- falta de esperança, desespero.

Para Puchalski, ter um relacionamento aprofundado com os pacientes é essencial. Ela conta de um paciente que costumava ser bem-humorado, cheio de piadas, com quem ela tinha "conversas incríveis" e que sempre a fazia rir. "Durante uma das consultas feitas na pandemia, ele não parecia ele mesmo", diz. Ela chegou a pedir que ele contasse uma piada e ele respondeu que, naquele dia, não conseguiria.

Demandou bastante tempo de conversa até que ele dissesse a ela que estava tentando ficar em paz com o fato de que ele não iria recuperar a esperança. "Eu não tinha como consertar isso", diz a médica à Folha de S.Paulo.

O que Puchalski diz querer é que a medicina abrace também esse tipo de problema e compreenda essas angústias como parte de um quadro geral de saúde. A ideia não é substituir medicação e terapia, mas integrar um cuidado em várias frentes.

Para isso, ela desenvolveu uma série de cursos e currículos acadêmicos para treinar médicos, profissionais da saúde e capelães, além de diretrizes para medicina e espiritualidade.

É uma proposta que se situa num campo de estudos em expansão. Hoje, o tema beira a entrada no mainstream. Em março deste ano, o CFM (Conselho Federal de Medicina) criou uma comissão dedicada à saúde e espiritualidade. A ideia é ampliar o corpo de pesquisa dos impactos da espiritualidade -nesse sentido mais amplo proposto pela médica- na saúde de pacientes.

Integrantes do grupo brasileiro dizem que a proposta é estudar os hábitos de espiritualidade -como rezar e frequentar centros religiosos- com a mesma atenção que outros hábitos humanos recebem. Se a alimentação e os exercícios físicos são estudados, por que não despender o mesmo olhar para a espiritualidade?


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