COP30 retira proposta de Lula e adia debate sobre fim dos combustíveis fósseis
A versão mais recente do documento central da COP30, divulgada neste sábado (22), retirou do texto final a proposta defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reduzir progressivamente o uso de combustíveis fósseis. A exclusão ocorreu após intensas divergências entre países, que chegaram a ameaçar o avanço das negociações. Embora esteja prevista para votação em plenária, a chamada “decisão mutirão” ainda pode sofrer ajustes de última hora.
O documento publicado atendeu parcialmente aos interesses europeus ao adotar uma redação mais branda sobre o aumento de recursos destinados à adaptação climática. Por outro lado, trouxe avanços simbólicos, como o reconhecimento inédito do papel das comunidades afrodescendentes e dos territórios indígenas no enfrentamento à crise climática, além de incluir referências a questões de gênero. Ainda assim, propostas centrais para o governo brasileiro, como o plano para zerar o desmatamento, ficaram fora do texto.
A ideia de elaborar um “mapa do caminho” para o fim dos combustíveis fósseis, formulada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ganhou força após ser destacada por Lula durante a Cúpula de Líderes, mas não obteve apoio suficiente nas negociações. Apesar da rejeição, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou que o Brasil conduzirá essa iniciativa no próximo ano, enquanto mantém a presidência formal da conferência até novembro de 2026, quando a COP será sediada na Turquia.
No campo da adaptação climática, o texto prevê que os países deverão triplicar o financiamento global até 2035 — prazo estendido em relação ao rascunho anterior. No entanto, o acordo omite valores específicos e não estabelece claramente como as nações desenvolvidas devem contribuir. Países em desenvolvimento reforçaram a cobrança para que as economias ricas cumpram o Acordo de Paris, ampliem doações e facilitem acesso a crédito, tema reiterado por representantes africanos, que alertaram para os impactos desproporcionais enfrentados pelos mais vulneráveis.
Além disso, foram definidos cerca de 60 indicadores para monitorar riscos e avanços em ações preventivas, incluindo estresse hídrico, ameaças a ecossistemas e realocação de populações. Outro ponto formalizado foi o arranjo que encerrou a disputa entre Turquia e Austrália pela COP31: os turcos sediarão a conferência de 2026, enquanto os australianos liderarão a negociação, e a pré-COP ocorrerá em um país insular do Pacífico.
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