Monstro negro: Ex-escravo é considerado o primeiro serial killer brasileiro
Quando morreu na Cadeia Pública de São Paulo, cinco meses depois de ser preso, vitimado por tuberculose, o escravo José Augusto Amaral, tinha 56 anos e a acusação pesada de ser um assassino em série ou ‘serial killer’, o primeiro que se tem notícia no Brasil. Ele foi acusado de seduzir, estrangular e estuprar jovens.
Preto Amaral, conhecido também como o “monstro negro”, “diabo preto” e “estrangulador de crianças” nunca foi julgado e, portanto, nada ficou provado, mas historicamente seu nome é citado como o primeiro assassino em série do Brasil.
Amaral foi liberto aos 17 anos pela Lei Áurea, época em que foi servir ao para o exército, participando da Guerra dos Canudos (1897), quando foi promovido a tenente. Depois da guerra, Amaral integrou batalhões de polícia e desertou, sendo preso em Bagé, Rio de Janeiro, ao tentar desertar do exército nacional. Foi condenado a sete meses de prisão e, ao sair, passou a fazer bicos em São Paulo.
Preso novamente em 1927, a acusação foi de seduzir, estrangular e estuprar três rapazes. A polícia relatou que seu depoimento, Amaral confessou os crimes.
VÍTIMAS
Após conhecer a primeira vítima, Antônio Sanches, 27 anos, na Praça Tiradentes, foram para um botequim tomar café e a pretexto de irem assistir a um jogo de futebol, saíram juntos. O corpo de Antônio foi encontrado próximo ao Campo de Marte, na zona Norte de São Paulo.
Uma criança de 10 anos, João Felippe Carvalho, foi a segunda vítima, atraída por Amaral com balões que ele vendia na região do Canindé, também na zona norte. O corpo de José Felippe só foi encontrado 13 dias depois, sem os membros superiores.
A terceira foi Antônio Lemos, 15, convidado a almoçar por Amaral nos arredores do Mercado Municipal, na região central da cidade. Depois, teriam ido de bonde na direção do bairro da Lapa, até que desapareceu.
Após esse crime, a polícia percebeu estar diante de um assassino incomum, mas seguiu sem pistas até que Roque Piccili, 9, engraxate, conseguiu escapar de Amaral, após ser levado para debaixo de uma ponte. Um ruído de vozes assustou o assassino que fugiu, deixando o menino que denunciou Amaral à polícia.
Preso e torturado, ele acabou confessando os crimes, relatando os detalhes descritos pelos policiais.
Em pouco tempo, vitimado pela tuberculose morreu sem ser julgado e sem declarar qualquer motivo para os crimes. Um psiquiatra teria examinado Amaral na prisão e teria relacionado ao tamanho do pênis do ex-escravo a gravidade dos atos praticados, fato comum naquela época.
Após a morte Amaral, no entanto, crimes semelhantes aos que foi acusado continuaram ocorrendo, mas talvez por ser negro e ex-escravo, acabou taxado como primeiro ‘serial killer’ brasileiro.
Em 14 de outubro de 2012, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo realizou um julgamento simulado para José Augusto Amaral, reconstruindo os procedimentos penais registrados na investigação, assim como estudando laudos médicos, perícias policiais, depoimentos, fotografias e jornais da época.
A sentença inocentou Amaral, por entender que o fato dele ser negro e ex-escravo foram as questões que mais pesaram na decisão do júri que o condenou no início do século passado.
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