Uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) revelou a estrutura de poder e os principais nomes do Comando Vermelho (CV) envolvidos na megaoperação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no dia 28 de outubro. O relatório detalha uma complexa cadeia de comando que atua na região, considerada uma das principais bases da facção. Segundo os promotores, o grupo tem investido, nos últimos anos, em um “projeto expansionista” para ampliar seu domínio sobre comunidades da Zona Oeste, especialmente Jacarepaguá.

O MP denunciou 69 integrantes do CV e descreveu uma hierarquia que inclui líderes, gerentes e executores responsáveis por diferentes áreas do tráfico. Embora o órgão não tenha participado da operação — a mais letal da história do Rio, com ao menos 121 mortos — o procurador-geral de Justiça, Antônio José Campos Moreira, afirmou que o MP vai investigar a ação das polícias Civil e Militar e acompanhar o processo de reconhecimento das vítimas. A investigação interceptou mensagens e imagens que revelam uma rotina de violência, tortura e execuções sumárias dentro das comunidades controladas pela facção.

Entre os principais alvos estão Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, de 55 anos, e Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, de 43, apontados como líderes do primeiro escalão do Comando Vermelho na Penha e em áreas próximas. Conversas obtidas por meio de quebras de sigilo mostram que "ninguém dá tiro sem ordem do Doca ou do Bala", indicando o controle absoluto exercido pelos dois. Doca é descrito como a principal liderança da facção nas comunidades da Penha, Juramento, Quitungo, Alemão, Gardênia Azul e César Maia — estas duas últimas tomadas de milicianos nos últimos anos.

Logo abaixo na hierarquia, estão Washington Cesar Braga da Silva, o Síndico da Penha, e Carlos Costa Neves, o Gardenal. Eles são considerados "homens de confiança" de Doca e responsáveis pela administração do tráfico na Penha, pela escala dos seguranças armados e pela arrecadação do dinheiro proveniente da venda de drogas. De acordo com o MP, Gardenal também comanda a expansão da facção na Zona Oeste e supervisiona a compra de armamentos e drones de vigilância, além de ostentar uma vida de luxo financiada por atividades criminosas.

Outro nome de destaque na denúncia é Juan Breno Malta Ramos, conhecido como BMW. Ele seria o chefe de um grupo chamado "Sombra", formado por matadores de aluguel a serviço do CV. Segundo os promotores, BMW é responsável por execuções e ações violentas que garantem a expansão territorial da facção em Jacarepaguá. Imagens anexadas à denúncia mostram cenas de tortura e assassinatos filmados, com Gardenal acompanhando os crimes em tempo real. BMW teria autonomia para autorizar pagamentos e atuar em operações de lavagem de dinheiro por meio de empresas de fachada.

O Ministério Público destacou que a estrutura do Comando Vermelho segue um modelo militarizado, com rígida disciplina e punições exemplares para quem desobedece ordens. A denúncia reforça que as disputas internas e externas do grupo têm resultado em dezenas de mortes e em uma crescente sensação de insegurança nas comunidades do Rio. Com as novas provas, as autoridades esperam aprofundar o combate à facção, que, segundo a Promotoria, continua a se reorganizar e a expandir seu poder mesmo diante de sucessivas operações policiais.

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