Sobre a corrupção na compra de água destinada aos flagelados no Amazonas
Cinco anos depois do grande dilúvio amazônico – a cheia de 2017 - a Controladoria Geral da União e a Polícia Federal desenterram uma história de horror ocorrida em meio a fome e ao desespero de milhares de amazonenses que perderam suas casas e foram parar em abrigos improvisados e insalubres: meio milhão de garrafões de 5 litros de água mineral, destinados a conter a sede dos desabrigados, teriam em parte sido desviados ou não entregues. Pior, foram superfaturados.
Para além da questão dos desvios, da fome e da sede que a corrupção produziu mais do que as enchentes daqueles dias difíceis, cabe uma indagação:
Cinco anos não é tempo demais para concluir uma investigação e prender os ainda suspeitos? Sim. Mas é compreensível que mesmo a PF tenha suas amarras diante do poder politico; que a Controladoria Geral da União controle muito pouco, com suas atribuições excessivamente diluídas; que o Ministério Público Federal tenha perdido relevância diante da escancarada sujeição ao governante de plantão.
Mas a ação da PF nesta quinta-feira é um claro indicativo de que essas amarras estão se rompendo, permitindo que esqueletos comecem a ser expostos, com o País renovando a vitalidade dos órgãos de controle.
Somente assim a água que a população precisa nas situações de calamidade deixará de ser desviada por gatunos contumazes, que a cada dia agem de forma destemida. Ontem foi a água, amanhã pode ser o pão.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.