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Logística complicada é maior gargalo para turismo em Gramado (RS) às vésperas do inverno

Por Folha de São Paulo

22/05/2024 8h40 — em
Economia



RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A logística complicada em razão do fechamento e das incertezas sobre a reabertura do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, representa o maior gargalo neste momento para o turismo na região de Gramado (a cerca de 120 km da capital), indicam representantes do setor.

Segundo eles, o eixo turístico do município da Serra Gaúcha, composto por parques, hotéis, bares e restaurantes, não sofreu danos de infraestrutura com as fortes chuvas que levaram destruição para o Rio Grande do Sul.

Já a situação logística, especialmente do aeroporto, é vista como uma espécie de trava para o desembarque de visitantes às vésperas do inverno.

Para amenizar os impactos negativos na temporada, o setor defende a ampliação da malha aérea emergencial em terminais menores do estado e de Santa Catarina.

Esse plano, já anunciado pelo governo federal, abrange aeroportos como o de Caxias do Sul, também na Serra Gaúcha, e a base aérea de Canoas, na Grande Porto Alegre.

"O caos trouxe muita preocupação com o Salgado Filho, mas também está mostrando alternativas. Não vamos ter o cenário de julho como seria normalmente, mas estamos confiantes em reduzir os impactos", afirma Jéssica Piffer, secretária-executiva da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) na região das Hortênsias, que inclui Gramado.

"Muita gente acha que está tudo fechado. Não é isso. Os restaurantes estão abertos", acrescenta.

Para evitar demissões neste momento, um acordo foi costurado entre representantes dos funcionários e empresários do setor de turismo na região de Gramado, aponta Rodrigo Callais, presidente do Sintrahg (Sindicato dos Trabalhadores em Hotelaria e Gastronomia de Gramado).

O acerto, diz o líder sindical, prevê medidas como a antecipação de férias e feriados.

"A indefinição sobre o Salgado Filho causa insegurança. Estamos entrando em um dos melhores períodos para o turismo em Gramado, que é a temporada de inverno. A falta de perspectiva para a retomada do aeroporto causa bastante preocupação", afirma Callais.

Segundo ele, a movimentação da temporada de inverno na Serra Gaúcha se concentra nos meses de junho, julho e agosto.

"Com as estradas bloqueadas e, principalmente, a questão do Salgado Filho, fomos impactados em cheio. A cidade [Gramado] está praticamente vazia", afirma Callais.

As operações do aeroporto da capital gaúcha estão suspensas desde a noite de 3 de maio em razão da enchente histórica que inundou a pista e áreas internas do empreendimento.

A concessionária Fraport Brasil, responsável pelo Salgado Filho, afirma que os voos seguem paralisados por tempo indeterminado.

Inicialmente, havia expectativa de que a suspensão se estendesse até 30 de maio. Porém, como os alagamentos ainda atingem o local, espera-se agora que a reabertura só ocorra a partir do segundo semestre.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda (20), o governador Eduardo Leite (PSDB) citou uma estimativa de cerca de cinco meses para a retomada do Salgado Filho. "Espero que não seja mais do que isso."

A Fraport Brasil declara que ainda não tem um levantamento sobre os danos causados pela enchente, o que seria necessário para a definição de uma data de reabertura.

"Sem dúvida, o Salgado Filho fechado hoje é a principal ameaça", diz Josiano Schmitt, empresário da área de gastronomia em Gramado.

De acordo com ele, estabelecimentos turísticos optaram por deixar seus funcionários em casa no início da crise climática, mas o setor tem condições de retomar as operações, uma vez que a infraestrutura dos negócios não foi prejudicada pelas chuvas.

O empresário defende esforços para a expansão da malha aérea emergencial em aeroportos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, além de estímulos a viagens de carro por rodovias não impactadas por enchentes ou deslizamentos.

"A cidade está operando de maneira organizada. As águas não representaram um impacto físico para as instalações turísticas", afirma.

Ronaldo Costa Beber, CEO da Gramado Parks, que administra parques, resorts e restaurantes na região, diz torcer pela retomada do Salgado Filho o quanto antes, mas reconhece que isso não está nos planos pelo menos em junho e julho.

Sem o terminal, o executivo considera necessária a criação de condições para uma temporada de inverno "minimamente viável". Esse quadro, segundo ele, passa por fortalecer o aeroporto de Caxias do Sul (a cerca de 70 km de Gramado).

Beber defende melhorias no terminal para que a capacidade de operação seja ampliada. Ele lembra que o aeroporto de Caxias costuma paralisar voos quando há registro de neblina.

"O turista que chegar a Gramado vai ser bem recebido, vai ter uma experiência igual à que tinha antes", afirma. "Diria que, com 60% [da ocupação na cidade], já é uma realidade que a gente consegue enfrentar sem uma onda de demissões gigantesca", acrescenta.

Somente em maio, o turismo na região de Gramado teve uma perda de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões, estima Claudio Souza, presidente do SindTur Serra Gaúcha (Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias).

"É muito prejudicial", diz o líder empresarial, ao falar sobre o reflexo do Salgado Filho fechado. De acordo com ele, a malha aérea emergencial não é capaz de resolver todos os problemas do setor.

"No momento em que anunciarem uma data de reabertura do Salgado Filho, mesmo que parcial, a gente acha que será uma virada de chave."

Entidades como o SindTur citam a dificuldade atual como argumento para defender a construção de um aeroporto internacional em Canela, município vizinho de Gramado. Trata-se de um projeto antigo de representantes locais e que ressurge agora.

"Sabemos da importância do Salgado Filho, mas precisamos ter outro aeroporto também. Todo mundo está vendo que precisamos de uma estrutura maior", afirma Souza.

Para atenuar os impactos da crise, representantes do turismo local pedem a clientes que remarquem, e não cancelem, suas viagens.


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