Para onde vai a riqueza que a indústria da ZFM produz ?
A questão não é saber para onde vai os bilhões de dólares que as empresas da ZFM produzem - a gente sabe. A questão é por que a riqueza produzida é distribuída de forma tão desigual...
O setor empresarial e o governo do Amazonas comemoraram o crescimento do PIB - Produto Interno Bruto - do Estado no primeiro trimestre deste ano. Na verdade, PIB representa a soma da riqueza produzida, mas na Zona Franca de Manaus é usufruída por muito poucos.
Quando se avalia o PIB per capita - a divisão do bolo com os cidadãos, se verifica que a riqueza é apropriada por uma parcela muito pequena, algo em torno de 1%, onde se concentram os donos do dinheiro e do setor produtivo.
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É uma riqueza para inglês, francês, japonês e chinês ver.
Se Formos avaliar com profundidade esse feito comemorado por tão poucos, exaltado mas nunca questionado por uma imprensa que se limita a publicar números que não compreende, encontramos Manaus como a terceira cidade mais desigual do País, com população vivendo na pobreza ou em extrema pobreza, fenômeno estimulado pelo alto índice de desemprego.
A questão não é saber para onde vai os bilhões de dólares que as empresas produzem - a gente sabe. A questão é porque a riqueza produzida é distribuída de forma tão desigual.
O que a indústria incentivada produz é de um valor imenso (para os empresários), brindados ainda por generosos incentivos fiscais que resultam em empregos mal remunerados e pouco investimento em áreas como ciência e tecnologia.
Fica muito pouco no Estado. Mas sem a Zona Franca o Amazonas seria nada - dizem os políticos com o olho na reeleição em 2026. De fato seria nada, mas a culpa é daqueles que se acomodaram, não buscaram criar alternativas ao projeto industrial e fizeram apostas equivocadas em uma política de incentivos fiscais que priva mais da metade da população à miséria.
Nunca é bom esquecer que, quando o governo dá incentivos a uma empresa, ele deixa de arrecadar. É quase uma expropriação do dinheiro do cidadão que poderia ser aplicado em bens e serviços, infraestrutura, escolas, hospitais.
É preciso que as empresas - que lucram muito e isso é divulgado como um grande feito - invistam mais em pesquisa e tecnologia. É preciso apostar no capital intelectual de quem vive aqui, plantar algo para o futuro. Isso ainda não foi feito.
ASSUNTOS: Amazonas, Manaus, PIB, Zona Franca

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.