Crime organizado se expande na Amazônia e governo finge que se importa
- A expansão do crime organizado na Amazônia e, em particular no Amazonas, é produto da ausência do estado brasileiro, que não disputa território, que não impõe regras e que se limita a reagir quando a violência já virou detalhe das estatísticas.
- Enquanto o crime avança com método, logística e capilaridade, o Estado brasileiro parece ter concentrado sua presença — quando aparece — na defesa simbólica da floresta.
- É um Estado que explode balsas de garimpo em operações cinematográficas, suspende mercados de carbono com decisões liminares, trava debates ambientais globais que rendem manchetes, mas permanece invisível diante das rotas fluviais dominadas por facções e das pistas clandestinas operadas diariamente.
O Amazonas é a fotografia mais nítida da fragilidade do Estado brasileiro diante do crime organizado. Esse retrato, longe da retórica, emerge com precisão cirúrgica na mais nova "Cartografia da Violência na Amazônia", divulgada durante a Cop 30.
Facções já dominam mais de um terço das cidades da Amazônia Legal, e o Comando Vermelho se consolidou como a maior força criminosa da região, presente em 286 municípios.
O caso emblemático é Tabatinga, situada na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, onde a cocaína e o Skank entram com uma velocidade que nenhuma estrutura estatal — policial, militar ou de inteligência — consegue acompanhar.
A geografia, mais uma vez, foi usada para explicar a ausência do Estado. Mas essa narrativa começa a ruir.
Enquanto autoridades repetem dificuldades logísticas, as facções cruzam fronteiras em lanchas rápidas, voadeiras e aeronaves clandestinas; constroem pistas de pouso em garimpos ilegais; estabelecem sistemas de comunicação próprios; e operam como verdadeiros Estados paralelos.
ASSUNTOS: Amazonas, Amazônia, Crime Organizado, CV, PCC
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.