A morte do menino Benício foi resultado apenas de falha da médica?
- Erros médicos, quando ocorrem, quase nunca são isolados. Envolvem falhas de comunicação, sobrecarga de plantões, prontuários eletrônicos imperfeitos e até burocracias de planos de saúde que podem atrasar decisões críticas.
- É essencial que a investigação examine o conjunto dessas circunstâncias — e não apenas a conduta individual da médica. O mais importante agora é permitir que as instituições trabalhem com equilíbrio.
- A morte de uma criança exige respostas consistentes, mas não deve abrir espaço para decisões precipitadas. Justiça não nasce da pressa — nasce da precisão.
O caso "Benício Xavier" exige investigação firme, respeito à dor da família e transparência absoluta do hospital. Mas também exige serenidade.
Tragédias não se resolvem com conclusões apressadas, e a verdade só pode surgir dos laudos, das imagens e das provas — nunca da emoção do momento.
Ainda é cedo para afirmar se houve ação dolosa da médica. Fala-se que ela teria prescrito adrenalina de forma equivocada, aplicada por via intravenosa, o que pode ter contribuído para a piora rápida da criança. Mas se isso está na ordem do dia, também requer prudência nas conclusões. Nem a polícia, nem o Ministério Público devem se mover motivados pela pressão da opinião pública.
A prudência é indispensável enquanto os fatos ainda estão sendo esclarecidos.
A decisão da desembargadora Onilza Abreu Gerth, ao conceder salvo-conduto à médica, buscou justamente evitar medidas extremas antes da formação de um conjunto probatório seguro.
A medida não absolve, não encerra a investigação e não impede responsabilização futura; ela apenas preserva garantias fundamentais até que a apuração seja concluída.
O delegado Marcelo Martins, ao representar pela prisão preventiva, atuou dentro de sua função legal e dentro da sensibilidade que casos desse tipo provocam. Seu papel é investigar, formular hipóteses e adotar providências que entenda necessárias. Contudo, a prisão preventiva exige requisitos rigorosos, e cabe ao Judiciário avaliar se já há base suficiente para uma medida tão grave. Nesse momento, prevaleceu o entendimento de que era cedo para tanto...
ASSUNTOS: erro médico, hospital santa júlia, menino benício
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.