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Amazônia e a governança paralela


Por Raimundo de Holanda

04/12/2025 22h00 — em
Bastidores da Política


  • No discurso, feito para produzir eco internacional, o governo trata a Amazônia com zelo impecável. Mas na prática a região vive um permanente conflito por terras e minérios. Uma guerra que todos perdem, porque não produz apenas desigualdade: produz governança paralela.
  • É nesse vácuo que prosperam as economias ilegais, que se organizam, financiam redes de proteção e impõem regras próprias. O resultado está nos mapas de violência: é longe das capitais, justamente onde o Estado não chega, que a região sangra.

Há décadas o Amazônia vive uma contradição. No discurso, é tratada como símbolo da soberania nacional, pulmão do planeta, patrimônio estratégico. Na prática, porém, segue entregue à própria sorte. O vazio estatal não é acidente: tornou-se política não declarada.

As áreas mais vulneráveis — onde se sobrepõem grilagem, desmatamento, garimpo e retirada ilegal de madeira — não recebem investimento público básico. Faltam delegacias, escolas técnicas, postos de saúde, infraestrutura mínima e presença policial contínua. 

Mediação fundiária não existe. Monitoramento ambiental é episódico. E quando o Estado aparece, chega tardiamente, por meio de operações pontuais que duram semanas, enquanto o crime permanece anos.

O país precisa encarar uma verdade simples: não existem soluções para a região sem presença estatal permanente e estruturante. A floresta só será preservada se houver Estado todos os dias, não apenas quando o ciclo político ou a pressão internacional exigem gestos simbólicos.

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ASSUNTOS: Amazônia

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.