Compartilhe este texto

Governo defende destruição de balsas pela PF, mesmo sem amparo legal


Por Raimundo de Holanda

28/09/2025 20h19 — em
Bastidores da Política


  • Cabe agora ao ministro Francisco Falcão, que antes havia negado liminar pleiteado pela Defensoria Pública do Amazonas, reavaliar se a repressão com explosões de balsas de garimpeiros deve ser mantida.
  • A justificativa de que “não há logística” para guardar as balsas é frágil — não se pode converter a falta de estrutura do Estado em razão para adotar medidas extremas.
  • O desafio está em assegurar a proteção ambiental e enfrentar o crime organizado, quando este existir, sem transformar a destruição sumária em política permanente.

O governo federal defende no STJ que a destruição das balsas de garimpo no Rio Madeira é legal e necessária. Usa como argumento a lei ambiental, decisões do STF e o risco de segurança de manter esse tipo de equipamento apreendido . Alega ainda que não existe garimpo autorizado no Amazonas e que qualquer atividade em curso é ilegal.

Essa posição escancara um dilema sério: transformar em regra a explosão de embarcações pode até parecer uma resposta rápida e prática, mas ignora outras opções de fiscalização, de apreensão e até de alternativas econômicas para quem vive dessa atividade. 

A justificativa de que “não há logística” para guardar as balsas também é frágil — não se pode converter a falta de estrutura do Estado em razão para adotar medidas extremas e de efeito irreversível.

Foi nesse ponto que a Defensoria Pública reforçou seu pedido ao STJ após a Operação Boiúna, alegando que surgiram “fatos novos” diante do fechamento de portos, suspensão de aulas e riscos de desabrigo e insegurança alimentar para comunidades ribeirinhas. Para os defensores, "o cenário já assume contornos de crise humanitária e precisa ser ponderado na análise judicial".

Cabe agora ao ministro Francisco Falcão, que antes havia negado liminar por entender a causa complexa, reavaliar se a repressão deve ser mantida nos mesmos moldes. 

O desafio está em assegurar a proteção ambiental e enfrentar o crime organizado, sem transformar a destruição sumária em política permanente e sem desconsiderar os impactos sociais. Do STJ se espera o equilíbrio necessário e adequado.

Siga-nos no

ASSUNTOS: Amazonas, destruição de balsas, garimpo ilegal, stj

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.