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No país das cotas, Lula cria a sua no STF


Por Raimundo de Holanda

21/11/2025 18h16 — em
Bastidores da Política


  • No Brasil, tudo parece ter virado cota: há cotas raciais, sociais, de gênero, cotas para etnias, cotas para carreiras jurídicas, cotas políticas. Mas, para o cidadão comum, permanece apenas uma: a cota de pagar a conta.
  • A conta das crises, dos rombos, da corrupção e das escolhas feitas para acomodar interesses partidários ou corporativos, sempre antes do interesse público.
  • Enquanto os políticos discutem quem terá sua parcela no STF, a sociedade segue arcando sozinha com o peso de um sistema que distribui cotas de poder entre a elite, mas não distribui avanços sociais para a população.

A indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal deixou no ar uma pergunta incômoda: qual o critério utilizado para essa escolha pelo presidente Lula?

A Constituição exige notório saber jurídico e reputação ilibada, mas o critério que prevaleceu foi o da proximidade pessoal. Lula não esconde. Foi assim com Flávio Dino. É assim com Messias. Os últimos movimentos do presidente deixam claro que o filtro, que nunca foi técnico, deixou de ser ideológico e passou a ser partidário. 

Mas o Planalto não é o único ator deste jogo. O Senado, que deveria funcionar como contrapeso republicano, tornou-se agente de uma disputa de poder ainda mais explícita. Davi Alcolumbre queria Rodrigo Pacheco no STF. Não conseguiu. E já anuncia que vai "dificultar" a aprovação. A sabatina, que deveria avaliar mérito constitucional, virou palco de negociação política.

O Brasil tem se tornado uma República onde cada poder reivindica sua “cota” no Estado. A Presidência quer sua cota no STF. O Senado quer a sua. Bancadas querem a delas. Corporações querem as suas. E aqui surge outra antítese pouco debatida: a cota dos advogados e do Ministério Público nos tribunais, prevista constitucionalmente como forma de oxigenar o Judiciário, mas que, na prática, muitas vezes se converte em instrumento de corporativismo, não de democracia.

Quando indicações passam a atender interesses de classe — e não o interesse público — o mecanismo se distorce. Em vez de pluralidade institucional, cria-se feudos jurídicos que se autopreservam. E isso, num país que precisa de instituições mais abertas e modernas, deveria ser revisto com coragem.

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ASSUNTOS: BECIAS, CGU, COTAS, DAVI ALCOLUMBRE, Lula, MESSIAS, STF

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.