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A morte de Francisco. Você o conhecia?


Por Raimundo de Holanda

19/06/2022 22h04 — em
Bastidores da Política



Francisco Machado Ribeiro Cavalcante morreu nas primeiras horas deste domingo em Manaus. Poucos o conheciam, era um desses brasileiros quase anônimos que salvam vidas e acumulam as dores dos outros. Era motorista de ambulância e socorrista. Estava nessa missão quando um jipe, com o condutor bêbado, bateu na ambulância parada. O impacto foi tão grande que Francisco acabou cuspido do carro.

Aquele homem afável, que ajudava a salvar vidas, agora estava caído no asfalto, imóvel, com o corpo dilacerado.

Não era um objeto frio, era um corpo, como o seu, gente como a gente. Com a vida interrompida tragicamente.  

Esse é um tipo de violência premeditado. Um motorista bêbado, dirigindo um carro em alta velocidade não está fazendo outra coisa senão instrumentalizar uma tragédia.

Os amigos velaram Francisco e choraram por ele junto a família que ele deixou,  mulher, filhos órfãos, irmãos que o amavam...

O que fica de aprendizado desse lamentável episódio é que a vida é  curta e que pode se acabar num instante inesperado, imprevisível. E que é pequena porque perdeu valor para os outros; porque ninguém cuida do outro, somente de si mesmo.  Porque o outro - que é o que resta da humanidade, da vida coletiva, não importa mais...

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Vivemos em um mundo de escolhas seletivas: o homem que escolheu beber para esquecer as mágoas e no dia seguinte provoca uma tragédia, fez uma escolha, assumiu um risco.  Fazemos algo parecido diariamente: seja na escola, onde adicionamos pontos a notas de alguns alunos porque gostamos deles e ignoramos outros, às vezes mais dedicados mas com os quais criamos barreiras e os cancelamos; seja no juízo de valor que fazemos das outras pessoas apenas porque são diferentes...Isso também mata, isso também é criminoso...

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.