A dona da floresta
A ministra Marina Silva se comporta como se a Amazônia fosse dela, esquecendo que a região também é lar de milhões de brasileiros que precisam circular, produzir, se alimentar e acessar direitos básicos.
A tentativa de blindar sua atuação sob o manto de uma suposta perseguição pessoal distorce o debate público sobre uma região rica em minerais e biodiversidade, da qual o País não pode prescindir.
Se Marina deseja ser parte da solução, precisa sair da posição de mártir e aceitar que a democracia também passa pelo confronto legítimo de ideias.
No último dia 2 de julho, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, foi novamente alvo de duras críticas no Congresso Nacional. Durante audiência na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, foi comparada a organizações extremistas como as Farc, Hamas e Hezbollah, acusada de promover “adestramento de esquerda” e descrita como alguém que foi “jogada na cova dos leões” pelo próprio governo.
Por mais forte que tenha sido o tom das declarações, o episódio reforça algo que vai além da retórica: trata-se de uma reação política concreta à postura da ministra, marcada por rigidez ideológica e resistência ao diálogo, especialmente em temas estratégicos para o desenvolvimento não somente da região Norte, mas de todo o país.
Prova disso é que esses enfrentamentos não se revelam como fatos isolados — tampouco podem ser qualificados por radicais da esquerda, como misoginia ou desrespeito à figura feminina no poder.
A resistência à pavimentação da BR-319, mesmo após o licenciamento ambiental pelo Ibama, ilustra bem essa desconexão.
Marina Silva, ao longo de sua trajetória política, construiu uma imagem coerente com o discurso ambientalista internacional, mas frequentemente deixou de ouvir as vozes de quem vive na Amazônia e depende de políticas públicas que articulem proteção ambiental com desenvolvimento econômico.
O Brasil precisa, sim, de uma política ambiental responsável — mas precisa também de uma política regional justa, que reconheça que desenvolvimento sustentável não se faz com interdições absolutas, mas com diálogo, equilíbrio e respeito à realidade local. E essa é a cobrança que vem sendo feita no Parlamento.
ASSUNTOS: Amazônia, BR 319, Marina Silva

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.