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Dom Phillips, Bruno e outros 41 mil mortos e 61 mil desaparecidos


Por Raimundo de Holanda

17/06/2022 19h04 — em
Bastidores da Política



O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips continua sendo o assunto mais comentado do momento, empurrado pela repercussão internacional, pela cobertura da imprensa e pelo momento político. Num País que registrou ano passado 42 mil assassinatos, 61 mil desaparecimentos de pessoas, 200 casos de tráfico humano para fins de extração de órgãos, pedofilia e prostituição, o caso Bruno/Phillips não deixa de ser grave e exige uma rigorosa apuração. Mas não se pode esquecer esses milhares de brasileiros que perderam a vida, que deixaram viúvas e órfãos tão anônimos quanto eles, famílias com as vidas destruídas no meio de uma batalha cruel e sem controle nas grandes e médias cidades.

Bruno e Phillips merecem todas as manifestações feitas até aqui, mas não são vitimas isoladas de uma tragédia localizada.  O fato de lutarem por uma causa não os torna os únicos heróis destes dias cruéis. Muitos Joãos e Antônios, Chicos e Josés, Marias e  Anas  que perderam a vida no trajeto do trabalho para casa também tinham sonhos de mudar o mundo,  projeto para os filhos, para as comunidades onde viviam.

Muitos, como Phillips, pensavam escrever um livro... mas ninguém fala deles, como eles eram. Ninguém procura saber a história que estava por trás de cada um deles ou se o motivo de suas mortes foi, e  certamente foi, a resistência ao crime, a oposição à presença de milícias em suas comunidades,  uma reação corajosa ao aparelhamento  de um estado  paralelo e repressor.  

A imprensa, sempre parcial e emotiva, contenta-se com a versão da polícia: todos eram traficantes ou tinham relação com o tráfico. Isso é relegar os mais pobres a um patamar ainda mais cruel: de provar, mesmo depois de mortos, que foram apenas vitimas de uma situação de desigualdade, miséria e violência para a qual essa mídia autoproclamada de  profissional,  que está em peso  no Vale do Javari, lhes dá as costas.

É isso, também, que faz esse País profundamente desigual e injusto.

 

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.