COP 30. Falta coerência ao Brasil
- Na capital paraense, palco da COP30, o discurso de Lula, que pedia o fim dos combustíveis fósseis e a reversão do desmatamento encontrou eco imediato na imprensa estrangeira, que viu no Brasil uma potência ambiental hesitante — dividida entre a retórica climática e a expansão do petróleo.
- Entre Belém e Paris, apesar da distância, as palavras do presidente Lula despertaram não a esperança de um futuro melhor, mas o desconforto das contradições presentes.
O editorial do jornal francês Le Monde, ao afirmar que o país tem “papel essencial a desempenhar” como anfitrião da conferência, reconhece a tradição diplomática brasileira e sua vocação para o multilateralismo. Mas, ao mesmo tempo, recorda que essa autoridade moral depende de coerência interna — e é justamente essa coerência que tem faltado.
Enquanto o governo prega transição ecológica em fóruns internacionais, renova contratos de usinas termelétricas a gás e carvão por décadas, acelera a prospecção de petróleo na margem equatorial e mantém silenciada a pauta da BR-319, esquecida no Ibama e sem licença ambiental. Um contraste eloquente entre o que se incentiva e o que se posterga.
Com razão, a imprensa francesa. Na Amazônia, cada licença ambiental e cada projeto de energia revelam a distância entre o texto constitucional e a prática governamental. Belém, que sedia a conferência do clima, tornou-se o espelho dessa dualidade.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.