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BR 319, o mal não é asfaltar, mas insistir em ignorar o isolamento da região


Por Raimundo de Holanda

29/09/2025 20h10 — em
Bastidores da Política



O discurso político, sempre nefasto, confuso e  oportunista,  renova o  debate sobre a pavimentação da BR-319. mas esse enunciado  costuma ser capturado por uma narrativa também nociva e enganosa: a de que o asfalto significaria desmatamento, grilagem e violência contra povos tradicionais. 

Impactos ambientais existem, mas reduzir o tema a esse viés ignora a face mais dura da realidade amazônica: o isolamento de milhões de pessoas e a fragilidade da soberania nacional sobre vasto território.

Sem a estrada, Manaus e os municípios do entorno seguem reféns da Zona Franca e do transporte fluvial e aéreo, caros e lentos. O colapso de oxigênio na pandemia mostrou de forma trágica como a ausência de logística custou vidas. Negar a pavimentação é condenar a região à eterna vulnerabilidade.

A Constituição impõe ao Estado o dever de reduzir desigualdades regionais. Estradas não são apenas vetores de degradação, mas instrumentos de integração nacional, de acesso a serviços públicos e de circulação de alimentos e medicamentos. 

O risco de “rondonização” existe, mas deve ser combatido com fiscalização, regularização fundiária e aplicação da lei, não com a perpetuação do isolamento.

Aos povos tradicionais, negar infraestrutura é negar cidadania. Ribeirinhos, extrativistas e indígenas precisam de escolas, hospitais e transporte que não dependam apenas de barcos precários ou voos caros. A pavimentação da BR-319 é, portanto, mais do que obra de engenharia: é questão de soberania e justiça regional.

A Amazônia não precisa de tutela retórica, mas de estradas sustentáveis que unam seu povo ao Brasil real.

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ASSUNTOS: Amazônia, BR 319, desmatamento

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.