Amazonas tratado com desprezo
O Amazonas continua sendo tratado como fronteira, não como parte efetiva do país. O poder central olha para a região como quem vigia um limite geográfico, não como quem governa uma sociedade. As leis chegam frias, sem perceber que aqui o território é rio, e a cidadania depende da cheia, da vazante e do tempo da floresta.
A aplicação mecânica da lei, feita de longe, ignora o que está embaixo: comunidades que vivem entre a tradição e a sobrevivência, sem estrada, internet ou acesso à Justiça.
O governo Lula age como autoridade de passagem — aparece em operações, aplica sanções, redige relatórios — e vai embora antes de ouvir quem ficou.
Não se trata de defender a ilegalidade, mas de exigir humanidade.
Proteger a floresta é dever constitucional, mas proteger o homem que vive dentro dela também é. Enquanto o país continuar a enxergar o Amazonas como borda, e não como unidade da Federação, continuará agindo dentro da lei, mas fora da justiça.
O Estado, a pretexto de proteger o meio ambiente e combater o crime, primeiro age, explode balsas — depois diz que vai ouvir o homem regional. Nem isso.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.