Noivo da cantora Roci, do Garantido, relata morte por Covid: 'ela lutou'
Em entrevista publicada na Revista Crescer nesta quarta-feira (3), o dançarino e coreógrafo Raony Ferreira da Silva, falou sobre a morte da noiva, a cantora Rocineide Mendonça de Oliveira, do Boi Garantido, ocorrida em decorrência da Covid-19, após um parto prematuro do primeiro filho do casal.
Roci morreu no dia 9 de janeiro, na UTI neonatal, com Covid-19, durante o período de colapso nos hospitais de Manaus. Ela passou por uma cirurgia de emergência para que o bebê pudesse nascer, morreu dias depois, e a criança precisou ficar internada na UTI após o nascimento.
"Nós já tínhamos conversado sobre ter filho há um tempo. A Roci queria muito ter filhos e eu também. Quando ela fez o teste de gravidez e me contou que estava grávida, fiquei muito feliz! Não sabia o que falar no momento. Sentei na cama e comecei a beijar a barriga dela emocionado. A partir daquele momento, sabia que teríamos uma grande família", contou.
Segundo Raony, Roci teve uma gestação tranquila e sintomas comuns de gravidez. Ele também contou que no início da pandemia, os dois ficaram isolados em Boa Vista do Ramos, no interior do Amazonas, e depois foram a Manaus.
"Só que na gravidez, a Roci tinha mania de não usar máscara, porque se sentia mal. Eu sempre brigava com ela, por isso. Quando percebemos uma queda nos casos de covid, demos uma relaxada e essa relaxada complicou tudo", disse.
Perto do Natal, o coreógrafo percebeu que a companheira estava tossindo. Ela não participou das confraternizações familiares: "Ficou no quarto com a nossa cachorra Mel, que tem medo de fogos. Depois viemos para casa e no dia 25, ela começou a sentir a tosse mais forte. Neste dia, Roci tinha gravação no estúdio, queria muito que ela não fosse, mas, infelizmente, ela foi e voltou muito mal.".
Segundo Raony, dias depois a noiva apresentou febre alta, mas o resultado do teste para Covid-19 deu negativo: “Voltamos para a casa, a febre passou e à noite ela piorou novamente. Muita febre, dor de garganta e fomos para o pronto-socorro no outro dia. Ela fez mais um teste e deu negativo. Foi então que ela foi medicada e liberada para voltar para casa, mas não melhorou. Fizemos um teste particular e deu positivo. Nesse momento, ela ficou com o psicológico abalado. Tentei acalmá-la de todas as maneiras possíveis".
No dia 30 de dezembro, os dois voltaram ao hospital Roci foi medicada e voltou para casa. No dia 31, a bolsa estourou, e os dois foram à maternidade. Lá, ela fez mais um teste para Covid-19, que deu negativo. "A Roci foi para a sala pré parto, estava com apenas três centímetros de dilatação e sofreu muito com as contrações. Naquele momento, não sabia o que fazer. Eu me senti um inútil. Ela continuava tossindo muito e como o exame tinha dado negativo, achávamos que era uma gripe normal. No dia 31, ela ainda estava sentindo as contrações mais fortes e à tarde os médicos decidiram fazer a cesárea. Ela estava sem forças para ter parto normal.".
O bebê, Max, nasceu com 33 semanas, pesando apenas 2,270kg.
Poucos dias depois, Roci fez um novo teste para Covid, que resultou positivo. "Disseram que ela estava com covid e teria que ser transferida para o leito das grávidas com covid. Ela ficou muito debilitada com a notícia. Eu fiquei destruído. Depois, vimos que eu também estava com dor de garganta e calafrios, já tinha pegado a covid dela. Ela me pediu para ir para casa e descansar, mas eu não queria deixá-la. Logo depois, ela foi para a sala de UTI e aí começou o sufoco, ficávamos sem notícias.".
A família, a partir daí, só pode se comunicar com a cantora através de cartas e áudios. Ele falou que foi a última pessoa a ser informada da morte, devido ao isolamento e recuperação da doença. "Ela lutou muito, escreveu uma carta e mandou um áudio para mim, doeu muito!".
"Foi um choque, fiquei sem ação. O que dói não é a dor da partida, mas a saudade. No dia do enterro, não pude acompanhar para não transmitir o vírus para as pessoas. Enquanto eu estava no hospital também, ela não viu o Max pessoalmente, só por foto. Depois que eu fiquei isolado, foi muito difícil receber notícias dela." , relata.
O filho do casal já estava fora da UTI quando Manaus entrou em colapso com falta de oxigênio. No dia 23 de janeiro, o bebê recebeu alta. "Foi um grande alívio".
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