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Juiz da Suprema Corte exibiu símbolo trumpista mais de uma vez, diz jornal

Por Folha de São Paulo

22/05/2024 20h32 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um outro símbolo trumpista foi exibido em mais um imóvel do juiz conservador da Suprema Corte dos Estados Unidos Samuel Alito, revelou nesta quarta-feira (22) uma reportagem do jornal americano The New York Times. Na última sexta (17), o jornal já havia mostrado que uma bandeira americana invertida, um conhecido símbolo trumpista, foi vista na casa de Alito dias antes da posse de Joe Biden em 2021.

Desta vez, fotos apontam que a bandeira "apelo ao céu", utilizada por apoiadores do ex-presidente Donald Trump que invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, estava hasteada na casa de praia de Alito em Nova Jérsei até pelo menos setembro de 2023.

Essa bandeira remonta da época da guerra de independência dos EUA, mas hoje é utilizada por grupos de extrema direita e nacionalistas cristãos --o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, já a pendurou em seu escritório.

A bandeira consiste de um pinheiro verde sobre um fundo branco, com a frase "an appeal to heaven", ou um apelo ao céu em português, escrita no topo. A frase tem origem nos escritos do filósofo John Locke, e faz referência ao direito de um povo de se rebelar.

Samuel Alito é o magistrado mais influente da ala conservadora do tribunal e o principal arquiteto da decisão controversa que revogou o direito ao aborto nos EUA em 2022. Ele foi o autor do texto que derrubou o precedente conhecido como Roe vs. Wade, que garantia desde 1973 que estados não poderiam interferir no direito da mulher de interromper a gravidez.

Tanto a bandeira dos EUA hasteada de cabeça para baixo quando a bandeira "apelo ao céu" estão relacionadas especificamente à defesa da teoria da conspiração criada pelo próprio Donald Trump segundo a qual houve fraude nas eleições que terminaram com a vitória de Biden em 2020, ideia amplamente difundida entre aqueles que invadiram o Capitólio em 6 de janeiro.

Alito não respondeu ao The New York Times nem se pronunciou sobre o fato de que mais um símbolo trumpista foi visto em um de seus imóveis. Sobre a bandeira dos EUA invertida, Alito disse que ela foi hasteada pela esposa, Martha-Ann Alito, depois de uma briga com um vizinho, que havia pendurado em seu jardim da frente um cartaz atacando Trump, e que ele não se envolveu com a decisão.

A nova revelação deve complicar ainda mais a situação do magistrado, que enfrenta pedidos para que se declare impedido de julgar casos relacionados ao 6 de janeiro. Dois deles estão tramitando na Suprema Corte nesse momento: um que analisa um pedido da defesa de Trump para que tenha imunidade total por ações realizadas durante o mandato e outro sobre obstrução de Justiça.

A Corte também passa por uma crise de legitimidade sem precedentes na história recente dos EUA. Em 2023, o site ProPublica revelou que o magistrado Clarence Thomas, outro conservador, aceitou presentes luxuosos do bilionário do ramo de imóveis Harlan Crow. O empresário, inclusive, bancou os estudos de um dos filhos de Thomas em uma escola privada.

Além disso, Thomas fez ao menos 38 viagens de férias com empresários a bordo de iates e jatinhos, além de ter recebido ingressos para áreas VIP de eventos esportivos profissionais e de universidades. No ano passado, o próprio Alito também admitiu que aceitou uma viagem de jatinho até o Alasca para pescar com um bilionário do mercado financeiro que movia ações na Suprema Corte.

Em novembro, sob pressão, o tribunal publicou pela primeira vez na sua história um código de conduta que estabelece exigências éticas dos magistrados em relação a presentes e relações de negócios.

Alito chegou à Suprema Corte em 2006, indicado pelo presidente republicano George W. Bush, e se tornou um dos mais influentes juízes do tribunal. Conservador, Alito liderou a articulação interna na corte para que o direito ao aborto fosse derrubado nos EUA, de acordo com uma reportagem do The New York Times, e atuou para arregimentar o apoio do resto da ala conservadora da corte --que, graças às três indicações de Donald Trump, hoje conta com cinco dos nove juízes.


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