Às vésperas de colapso no AM, equipe de Pazuello sugeriu não ter lockdown
Quatro dias antes do colapso do sistema de saúde do Amazonas, membros da equipe do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pediram ao governo do Amazonas que adotasse um “meio-termo”, diferente do lockdown.
Segundo o jornal O Globo, as fontes participaram de uma reunião realizada em Manaus, no dia 10 de janeiro, quando a possibilidade do Governo do Amazonas decretar a restrição mais rígida foi discutida.
De acordo com as duas fontes, após a reunião, membros da equipe técnica do Ministério da Saúde pediram, em caráter reservado, que o governo do Amazonas optasse por um "meio-termo". Segundo essas fontes, tratou-se de uma indicação direta à adoção de medidas menos rígidas que o lockdown.
Apesar dos pedidos, o governador Wilson Lima (PSC) não era obrigado a seguir orientações do governo federal. Uma decisão do STF do início do ano passado deu autonomia aos estados para escolher quais medidas adotar para conter o avanço da Covid-19.
Com hospitais lotados e falta de oxigênio hospitalar, no dia 14, o governador Wilson Lima assinou um decreto impondo medidas como toque de recolher, menos severas que o lockdown — que implica no fechamento quase total de todas as atividades não essenciais e a proibição da circulação de pessoas nas ruas.
Quatro dias depois, pressionado pelos relatos de mortes por asfixia e hospitais lotados, o governador Wilson Lima assinou um decreto impondo medidas menos restritivas que o lockdown como o toque de recolher entre 19h e 6h.
Com a explosão dos casos de Covid-19 e a falta de oxigênio hospitalar, Lima vem, desde o dia 14, impondo medidas mais restritivas como o toque de recolher e, mais recentemente, a proibição da circulação de pessoas por 24 horas, exceto para compra de alimentos, idas a farmácias, unidades de saúde e exercício de atividades consideradas essenciais.
No dia 15, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um inquérito para apurar suposta coação para o uso de remédios sem comprovação científica no tratamento da Covid-19 no estado, além da falta de oxigênio em unidades de saúde amazonenses.
No dia seguinte, o procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou a abertura de um inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para apurar eventual omissão do governador Wilson Lima da prefeitura de Manaus no combate à pandemia.
Na segunda-feira (25), o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, instaurou um inquérito para investigar a conduta do ministro Eduardo Pazuello em relação à crise na saúde pública de Manaus. A apuração foi aberta a partir de um pedido feito por Aras, no último sábado, motivado por representações de partidos políticos, que relataram omissão de Pazuello e de sua equipe. Lewandowski determinou ainda o interrogatório de Pazuello em até cinco dias depois da intimação
Procuradas pela reportagem, as assessorias do Governo do Amazonas e do Ministério da Saúde não negaram o teor das conversas, mas não responderam aos questionamentos específicos sobre a reunião.
O governo do Amazonas argumentou que decisões sobre restrições são tomadas com base em "indicadores epidemiológicos e da rede de assistência à saúde" e defendeu as medidas tomadas na fase atual.
"Todas as decisões sobre aumento de restrições ou de flexibilização de medidas de distanciamento social, desde o início da pandemia, são tomadas pelo Governo do Amazonas com base em indicadores epidemiológicos e da rede de assistência à saúde, que são monitorados diariamente pelo Comitê Estadual de Enfrentamento à Covid-19", diz trecho da nota.
Ainda segundo o governo estadual, mesmo essas decisões são discutidas com representantes de órgãos de controle e de entidades da sociedade civil "para que se encontre a melhor alternativa".
"Neste momento, o decreto de restrição de circulação de pessoas por um período de 24 horas, permitindo o funcionamento apenas de serviços essenciais em horários também restritos, foi considerada a melhor medida a ser adotada na fase atual de enfrentamento da pandemia de Covid-19", respondeu em nota, na quarta-feira (27).
Já o ministério citou o "apoio irrestrito aos estados e municípios" na aquisição de equipamentos e ressaltou que as partes têm autonomia para definir estratégias para o enfrentamento ao coronavírus.
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