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Sobre o jantar de Cidade na Grécia


Por Raimundo de Holanda

20/07/2025 21h25 — em
Bastidores da Política



Nos últimos dias, um vídeo que circulou nas redes sociais mostrou o presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, Roberto Cidade, em momento pessoal, jantando com a família na Grécia. O conteúdo, filmado sem autorização, foi explorado com linguagem de escárnio, rótulos e comparações dramáticas com tragédias da saúde pública no estado. O que era um jantar virou manchete; o que era privacidade virou campanha de desmoralização.

É legítimo criticar um agente público. É necessário cobrar. É papel da imprensa fiscalizar. Mas não é aceitável usar a imagem de alguém em lazer, fora do cargo, para acusá-lo  de crime que ele não cometeu. 

Não é certo comparar a roupa ou os acessórios que uma pessoa usa com a dor de uma criança que morreu — como se o simples ato de viver fosse um deboche.

Liberdade de expressão não é salvo-conduto para humilhar ninguém. O Judiciário, quando atua com equilíbrio e moderação, como neste caso, não cala a imprensa — apenas lembra que ela também tem limites.

A decisão da Justiça que determinou a retirada de vídeos e postagens contra o deputado Roberto Cidade não foi censura — foi equilíbrio.

Ademais, político também é gente. Tem família, tem rotina, tem sentimento. Se viaja, se janta fora, se usa uma marca cara — e tudo isso é feito com dinheiro próprio e sem ofensa à lei — não há crime, nem escárnio. O que há, às vezes, é preconceito contra quem tem, alimentado por uma visão moralista que usa a desigualdade como arma para destruir reputações.

A juíza que analisou o caso, em decisão clara e responsável, não censurou a crítica — apenas conteve o abuso. Ela ponderou dois direitos que têm o mesmo peso na Constituição: o da liberdade de expressão e o da honra, imagem e vida privada. E concluiu que houve excesso, como qualquer leitor de bom senso também pode ver.

Liberdade de expressão não é salvo-conduto para humilhar ninguém. O Judiciário, quando atua com equilíbrio e moderação, como neste caso, não cala a imprensa — apenas lembra que ela também tem limites.

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ASSUNTOS: Carne de ouro, Grécia, Liberdade de Expressão, Roberto Cidade

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.