Guerra de narrativas e a ameaça de banir o Telegram do Brasil
O Tribunal Superior Eleitoral está decidido a banir o Telegram. Alega que é uma fonte de disseminação de notÍcias falsas e que seria usado nas eleições deste ano (para turbinar candidaturas de direita?). A iniciativa de banir o Telegram, se for efetivada, não estaria embasada numa ideia de intolerância que o próprio tribunal diz querer combater?
E afinal, o que é a verdade, se a própria justiça brasileira vive mudando suas próprias decisões, sob a alegação de que, por exemplo, condenações como as ocorridas na Lava Jato deveriam ser anuladas, como foram, porque um juiz lá na ponta, errou.
E perigoso numa democracia dar toda essa força a um tribunal que dita regras que beiram a censura ou vão mais além, sem a chancela dos demais poderes da República.
É perigoso para a liberdade de expressão permitir que um tribunal eleitoral (ou o próprio STF), decida sobre o banimento de um aplicativo no qual milhões de brasileiros interagem, não importando a ideologia que pratiquem.
As narrativas virais nas eleições deste ano independem do Telegram. Elas vão ocorrer de qualquer maneira porque o mundo mudou, as pessoas não vão sair das bolhas em que vivem, nem abrir mão de seus preconceitos e de seus ódios. Qualquer vídeo viraliza no WhatsApp, o aplicativo que segundo o TSE, se adequou as novas regras.
O problema é que não existe controle . O processo de vitalização de informações verdadeiras ou falsas está além da capacidade de controle de qualquer aplicativo. Menos ainda de um tribunal.
A questão é saber até que ponto é legitimo um tribunal banir um aplicativo de celular com base no confuso entendimento de que ele pode servir a uma rede de mentiras com capacidade de influenciar uma eleição.
O que o TSE deveria fazer era se preparar para enfrentar a maior e mais sofisticada guerra de narrativas já em curso. Se preocupar com aplicativo de celular é o mínimo. O pior está por vir. O que não pode ser ameaçado é a solidez do processo eleitoral brasileiro.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.